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psichos: ÉTICA E RELIGIÃO NA HISTÓRIA



-------- Comprometi-me em fornecer muitos exemplos de como as religiões promoveram ações antiéticas ao longo da história. Alguns já foram citados, mas é algo que não é necessário mais do que algumas palavras para qualquer um com um mínimo de conhecimento histórico.
-------- Cruzadas e Guerras Santas em Geral, Inquisição e Caça às Bruxas, Conversões Forçadas, e diversas outras coisas, perpetradas por grupos de praticamente todas as religiões, são mais do que suficientes para nos convencer disso.
-------- Muitos hão de alegar não sem razão que tais eventos se deram pela negligência da observação das próprias normas religiosas. Algo difícil de defender quando vemos diversas passagens na Bíblia ou no Corão que de fato apregoam tais posturas, ainda que sejam contrabalançadas por outras diametralmente opostas. Mas mesmo fora disso, nada muda o fato de que os sistemas religiosos parecem incapazes de deter tais processos.
-------- Alguns podem se surpreender, mas defendo a posição de que não existem, nunca existiram, guerras de causas religiosas. Mas as religiões legitimaram muitas guerras e atrocidades, cujos verdadeiros objetivos eram políticos, e econômicos, sociais ou étnicos. Mas o raciocínio em si pouco muda, dada a já referida incapacidade das religiões de se oporem fortemente, como modos de pensar coesos, contra esses já referidos processos, muitas vezes os sacralizando.
-------- Já forneci minha explicação básica, de que a Ética é para a religião inessencial, portanto a recorrência de posturas antiéticas em seus cânones, instituições ou membros muito pouco pode fazer para afetar suas estruturas fundamentais.
-------- No entanto permanece na mentalidade popular a muito difundida idéia de que a Ética só é possível em bases religiosas. Pesquisas recentes inclusive tem apontado essa opinião como majoritária nas américas, destaque para a nação que recentemente reelegeu um presidente antes "eleito" num processo de votação fraudulento e que demonstrou várias posturas antiéticas em seu governo, mas que no entanto, apresenta uma imagem de homem religioso e acabou sendo acolhido pela maioria da população como um representante da moralidade.
-------- Fenômenos como esse denotam uma tensão em nossa sociedade, um conflito de concepções morais distintas, que envolvem de um modo ou de outro as diversas tradições que a humanidade desenvolveu em termos de noções morais e éticas.
-------- Na tradição filosófica distinguimos várias correntes de pensamento ético, em especial o Consequencialismo, o Deontologismo ou Ética dos Deveres, o Perfeccionismo ou Ética das Virtudes, o Eudaimonismo ou Ética da Felicidade, e a mais recente Ética do Cuidado. E é claro, temos as Morais Religiosas e o Sistema Jurídico.
-------- Gostaria então de simplificar esses sistemas e estabelecer uma dicotomia de modo a explicar melhor nosso dilema contemporâneo. Num esquema que já apresentei num furioso ensaio denominado 50 MILHÕES DE CRETINOS!
-------- Num primeiro grupo estou reunindo o Consequencialismo e boa parte do Deontologismo, bem como elementos dispersos de outras éticas. Chamo esta de ÉTICA DA FINALIDADE.
-------- Ela propõe que o valor de uma ação está na Consequência que se tem em vista. Ou seja, não numa mera consequência ainda que acidental, mas naquilo que o agente tinha a intenção de promover. Desta forma unimos elementos de Intencionalidade presentes nas Éticas de Deveres, que ainda que subjetivos, são normalmente aceitos por todos como relevantes para avaliar o valor de uma ação ao menos num nível íntimo.
-------- Digo que é mais ou menos essa linha de pensamento que impera no senso-comum secular.
-------- Em contrapartida estou agrupando outra parte do Deontologismo, especificamente a parte de maior ênfase em deveres imperativos, e o Perfeccionismo, ou sua maior parte, para explicar a Moral Religiosa. Chamo a esta ÉTICA DO PRINCÍPIO.
-------- Nesta estaria inclusa a mentalidade de senso-comum religiosa, que estaria envolvida em posturas como a que descrevi mais acima.
-------- Como podemos ver, estou estabelecendo uma dicotomia, ou melhor, estou criando um sistema explicativo dual para entender nosso dilema contemporâneo e extremamente atual. E que no entanto, pode ser utilizado para entender todo o dilema histórico a qual tenho me referido.
-------- Considerando que o que está em julgamento é o valor ético das ações humanas, digo que A Ética da FINALIDADE crê que o valor da ação deve ser medido no Objetivo que se quer alcançar, independente do Meio que se use. Como diria o Utilitarismo, que se lance mãe de procedimentos essencialmente anti-éticos, como o assassinato, pode ser que o resultado final possa justificar os meios, como no caso de eliminar um perigoso infanticida.
-------- Por outro lado A Ética do PRINCÍPIO supõe que o valor ético da ação é determinado pelo seu ponto de partida, ou seja, a ação será Boa caso se baseie numa fonte Boa, no caso Deus, ou o homem virtuoso, que é aquele que está comprometido com a religião, que está, em termos cristãos protestantes, justificado pela Fé.
-------- Creio que o dilema atual pode ser visto assim.

O que pretendo demonstrar é que, apesar desta ÉTICA DE FINALIDADE possuir problemas, a ÉTICA DO PRINCÍPIO é contraditória, e tem como resultado as mais diversas distorções possíveis, explicando o que tem ocorrido historicamente e justificando minha Terceira Tese, que afirma que tentar derivar a Ética da Religião é extremamente problemático, se não suicida.


-------- O motivo é simples. Enquanto a Ética da Finalidade tende a definir o Bem como aquilo que é universalmente aceito, como a Regra de Ouro, uma vez que se preocupa com o Bem Estar geral visado, a Ética do Princípio não tem como definir o Bem de nenhum modo compreensível. Ou seja, enquanto a definição de Bem da Ética de Finalidade, que seria o Bem-Estar, prazer, felicidade e etc, é meramente discutível, a definição de Bem na Ética de Princípio é simplesmente inexistente, ou quando parece existir, é fundamentalmente contraditória e vazia.
-------- Pois se uma ação é Boa devido a partir de uma Origem Boa, como então sabemos que tal origem é de fato Boa?
-------- Voltando ao dilema da religião: Como saber se uma instrução divina é de fato proveniente de um Deus Bom?
-------- Se é pelo seu conteúdo, então quem define o conteúdo além de nós mesmos?
-------- Se é pela autoridade da fonte, como então entendemos que ela é de fato Boa?
-------- Não há resposta! No máximo pode-se dizer que tudo que vem de Deus é Bom, ou que somente o homem renascido em cristo pode agir eticamente, ou somente o que se faz justificado pela Fé. Mas nada disso explica o que é o Bem. Apenas usa a palavra como mais um sinônimo para aquilo que é determinado por um imperativo religioso inexplicável.
-------- Posso ser acusado de estar criando uma versão espantalho da noção ética religiosa, mas tenho uma larga experiência em diálogos com religiosos, em geral protestantes, que representam muito bem essa linha de pensamento. Em especial, a idéia da Justificação pela Fé funciona como um identificador de Virtude. O "Cavaleiro da Fé", como diria Kierkegaard, é um Homem Virtuoso, e capaz de fazer o bem, ainda que Kierkegaard não ponha dessa forma. Por outro lado, nada do que a pessoa não religiosa fizer terá valor, pois neste ponto de vista as "obras são inúteis", e portanto não importa a dimensão do benefício e bem estar geral promovido por uma ação de uma pessoa não justificada pela Fé. Ela simplesmente será sem valor algum, se não fundamentalmente maligna.
-------- Partindo do dogma fundamental do cristianismo, que é a maldade intrínseca do Ser Humano e sua incapacidade de se salvar por si próprio, adicionando-se o elemento Calvinista da Depravação Humana total, decorre que o Bem só pode advir da divindade. E finalmente cai-se então no dilema de o que afinal define o Bem nessa linha de pensamento. A resposta que tenho colecionado é, ou o silêncio, ou a repetição do dogma.
-------- No entanto é essa linha de pensamento que elegeu um presidente tido como virtuoso por ser religiosamente comprometido, apesar de ter protagonizado posturas eticamente inaceitáveis como mentir em assuntos de geopolítica para justificar uma guerra, e ainda promovê-la sonoramente declarando ter apoio de Deus.
-------- Com essa mesma linha de pensamento, se uma instrução supostamente derivada da divindade apregoar que devemos atirar um Boeing numa torre matando milhares de pessoas, essa ação será considerada Boa e justificada. Se apregoar que deve-se bombardear, invadir e pilhar um país "pobre", mesmo que não exatamente em nome de Deus mas em nome de Virtudes como Democracia e Liberdade, também será considerada Justa e Boa.
-------- E assim, a Ética se auto destrói sob a Moral religiosa, cujos valores são tão permanentes quanto uma bolha de sabão, e os piores tipos de inversão podem ser feitos, esquecendo-se completamente da Regra de Ouro e perpetrando qualquer tipo de ação em benefício dos mais diversos interesses sob a máscara da moralidade.

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