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O CLIMA DA COPA


O CLIMA DE COPA NÃO PODERIA SER OUTRO: BRASIL FAVORITO TOTAL E INQUESTIONÁVEL.
A ÚNICA SELEÇÃO COM VALORES INDIVIDUIS EQUIPARÁVEIS É A INGLATERRA.
ITALIA DEFICIENTE NO ATAQUE, ARGENTINA DEFICIENTE NA DEFESA, ALEMANHA DEFICIENTE EM TUDO MENOS NA FORÇA DE VONTADE, FRANÇA ENVELHECIDA. PORTUGAL APENAS LUTADOR...

MESMO A VITÓRIA SOBRE GANA FOI PATENTE. SE TIVESSEMOS MAIS NOVENTA MINUTOS SERIAM UNS ONZE A DOIS. GANA FOI FRAQUISSIMA. UM FUTEBOL INFANTIL E CHORÃO. RECLAMANDO DE UM IMPEDIMENTO SENDO QUE RONALDO FOI "IMPEDIDO" DE CONVERTER UM GOL AOS DOIS MINUTOS POR UM IMPEDIMENTO MAL MARCADO.

O QUE ME EXASPERA É A INGENUIDADE E FALTA DE SENTIDO DE TEMPO DO PARREIRA, QUE A DESPEITO DE POSSUIR EM SEU TIME O MAIOR JOGADOR QUE EU VÍ JOGAR (RONALDINHO GAUCHO), ESCALA O MESMO DE VOLANTE. MATANDO O MAIOR TALENTO DESDE A DESPEDIDA DO PIBE DE OURO,MARADONA.

GRAÇAS A DEUS O MAIOR ATACANTE DE TODOS OS TEMPOS AINDA ESTÁ VIVO. GORDO, MAS BRASILEIRO!

MITOLOGIA CELTA: The Glastonbury Area. LAR DE MORGANA



Glastonbury Tor por Arianrhod

A grama verde claro, circunda toda area do Tor em Glastonbury.
O Tor eh um landmark. Esta montanha magica fica situada a 520 Pes
acima do nivel do mar.

Muitas
sao as estorias contadas sobre o Tor, mas numa coisa todos concordam: O Tor
eh um lugar em que o veu entre o real e o alem, teorna-se muito fino.
Encontros com fadas, espiritos guardiaes do Lugar e mesmo disco voadores sao
bastante comuns..

Glastonbury e mais precisamente, O Tor sao
considerados lugares sagrados para Pagaos, Heathens, Cristaos e todos
que ja experimentaram seu poder. Alguns dizem que esta forca deve-se aos
Genius Loci ou Lares Patellarii, outros atribuem esta aura a tremenda
forca dos Ley lines (dragon lines) que sao linhas de forca que se tocam no
topo do Tor. O pessoal chama estas correntes gemeas de Michael e Mary
(energias positivas e negativas). Dizem que estas linhas se encontram na
corte do rei Arthur. Geomancers dizem que estas linhas Geomagneticas
atravessam os jardins do chalice Well (Poço do calice), passam pela velha
Abadia e pelo Tor, vindo do leste da Cornwall e continuando para o
Oeste ate Norfolk , onde existe um circulo de pedras. Antes de atingir
Norfolk as linhas passam por Avebury ( ja mandei fotos deste fenomenal
circulo de pedras para voces). Estas linhas seguem paralelas, so se tocando
no summit do Tor.



Para os Cristaos, ha estorias de como Jose de Arimateia, cravou seu cajado em
Avalon, dele nascendo uma arvore sagrada (Hawthorn). Esta sendo a mae das
outras Hawthorne no jardim.
Tambem ha estorias de que Jose de Arimateia trouxe o calice do GRAAL para
Glantonbury e escondeu-o perto do Well (poço).

ARIANRHOD

PSICHOS: a teogonia de jung, sophia...



A teogonia de Jung é a projeção no macrocosmo da psiqué humana e os mitos de criação (cosmogônicos) descrevem o despertar da consciência a partir do inconsciente. Para ele, o Demiurgo é o ego ou o pequeno Si-mesmo. Nossos relacionamentos projetam nossos fracassos e inadequações interiores: é o reino da sombra, o vilão interior. Além disso, ele escolhe Sophia como a mais elevada entre as figuras de anima: Barbelo, Eva, Helena e Maria. Estas são representantes de fases anteriores do processo de autoconhecimento masculino, que é acionado quando a anima, ativada, conduz a alma para dentro do interior psíquico e produz a totalidade indispensável. Para ele, salvar o homem do mundo é um processo de desidentificação em relação ao Outro externo e ao Outro interno.
Jung diz mais: mudança sem transformação é um desastre: os elementos naturais apenas mudam, mas não se transformam, por isso é necessário realizar a opus contra naturam, para que haja real transformação e diminuam as projeções, preparando o homem para encarar sua própria luz interior, quando o Self retorna a si-mesmo, dando a quintessência do que foi e do que será.
Sobre a questão do mal, Jung pronuncia-se contra a teoria platônica, retomada por Santo Agostinho, de que o mal é a ignorância ou privação do Bem; para ele, o mal existe como pólo antinômico do Bem, atributos que se anulam no Pleroma. Isso ele afirma em seu Primeiro Sermão. Nessa questão, Jung coloca-se contra a teoria agostiniana da privatio boni, de origem platônica.
Jung levanta a hipótese da inconsciência de Deus, a partir do caos da indiferenciação ao cosmos, da lei, da ordem e da diferenciação. Para ele, não existem seres irreligiosos, apenas há os que não reconhecem o nível importante do inconsciente, o poder da imaginação e a dialética de compensação que efetiva, por meio dos símbolos, os conteúdos inconscientes. Mas acrescenta ele: a necessidade não é de uma crença e sim de uma experiência religiosa que integra a alma numa totalidade. Deus é para ser vivenciado, pois só o que experimenta está vivo, o que crê está morto. Daí a importância do controle da consciência que enriquece e beneficia a alquimia e a magia do inconsciente em suas projeções.


É assim que Jung dá grande importância à subida do nível de consciência, a partir do inconsciente urobórico e indiferenciado. Disso dão conta os mitos luciferinos e prometeicos, bem como os papéis de Lilith e Eva.
Na verdade, Jung acha que não somos nós que fazemos as imagens de Deus: “Elas é que se fazem”, constituindo-se a imago Dei num complexo autônomo de grande força e intensidade, arraigado na plenitude do Ser, na psiqué como um todo, cabendo apenas ao ego pessoal confiar nesse poder transcendente, que é o Deus que está na alma, como uma realidade viva, dando-nos o esplendor dos recursos suprapessoais, da criatividade e da auto-renúncia.
Tais idéias conduzem diretamente à relatividade da concepção de Deus, sendo a prece apenas o prazer que se extrai da experiência divina, como doação de si-mesmo a seu Deus interior: a gnosis kardia, já mencionada. Por via de conseqüência, o mito da encarnação contínua de Deus nos seres criados e a redenção mútua do homem e de Deus, idéias que Jung retomará na década dos 50, com seu “Resposta a Jó”.
No campo da moral, Jung aceita o antinomianismo dos gnósticos (não reconhecimento das leis ditadas pela moral convencional dos homens em sociedade) e propõe a ética da convicção pessoal, ditada pelo núcleo arquetípico da sabedoria interior que cada homem possui. Para ele, a meta da plenitude não deve ser confundida com os ideais da perfeição, pela via da imitação do Cristo.
Hoeller acha mesmo que a individuação pode implicar em ir-se contra os critérios estabelecidos pela sociedade, evidenciando um conflito entre a lei e a liberdade do indivíduo, único verdadeiro portador de consciência. (Cf. 1993:155).
Como Deus é uma união de opostos no Pleroma, a plenitude do Ser só ocorre no inconsciente coletivo: bem e mal, belo e feio, verdade e erro etc. Daí, a importância da integração da sombra, para compor a totalidade do indivíduo, incluindo seu lado negativo ou rejeitado no processo de individuação.
Acompanhando Hartmann e Schopenhauer, Jung concebe Deus como inconsciente, representado pelo caos e sua indiferenciação, tanto no inconsciente, como no cosmos. Resulta, então que a missão do homem é o resgate da diferenciação pela consciência, inclusive pela consciência do mal.


A subida do nível de consciência, cujos mitos principais, já apontados, são os de Lúcifer e de Prometeu é a verdadeira missão do homem na terra e o papel do feminino no processo de individuação (Lilith, Eva, Pandora) é reconhecido em diversos mitos de diferentes povos.
Jung segue ainda as idéias de um filósofo medieval - Joachim dei Fiori - que falava de uma Era do Pai, uma Era do Filho e uma Era do Espírito Santo. Em seu livro “Resposta a Jó”, Jung retoma essas idéias com seu mito de encarnação contínua de Deus e da redenção mútua do homem e de Deus.
Do ponto de vista religioso, aceitam os gnósticos de Alexandria, nesses primeiros séculos da Era de Peixes, a figura de Jesus - o homem perfeito - que encarna o CRISTO, o ungido, o Messias - emanação do Deus perfeito - para a redenção do Homem e da Humanidade. Jung, no entanto, criticará a unilateralidade da concepção cristã, com a ausência da sombra divina, o Leviatã. Ele fala, também, da sombra de Deus e do Cristo, ainda que não aceita oficialmente pelo cânones da Igreja. Ele se refere à figura do Anticristo, que surgiu no fim do primeiro milênio cristão, como uma enantiodromia à perfeição imaculada do Cristo. Aconselha ele que devemos temer a Deus e ensina que a idéia do anticristo é arquetípica, para completar o quatérnio: MAL X BEM; ESPÍRITO X MATÉRIA..

Em suma, a salvação ou redenção do Homem não se faz pela fé, mas pelo conhecimento - GNOSE (do grego = conhecimento). Mais precisamente, pelo autoconhecimento. Coincide assim o esforço gnóstico com o processo de individuação junguiano, a partir dos seguintes pressupostos:

1) - se há um Deus supremo, transcendente; por outro lado, há um Deus imanente, em cada ser
humano, que cumpre libertar e contactar, pela experiência direta do divino em nós;
2) - o caminho para isso é o da transformação da alma, cadinho onde as experiências místicas
ocorrem, e onde se cumpre (ou não) o casamento alquímico do Rei e da Rainha, do divino e do
humano, em nossos corações: é o Caminho da Individuação;
3) - a meta e o propósito da vida são, portanto, o atingimento desse estado de consciência, a
partir da inconsciência - da agnoia - anterior, sombra que sustenta o desabrochar da consciência
divina no Homem;
4) - o grande pecado da alma é a ignorância (avidya, em sânscrito) que a mantém nas trevas,
afastada de sua divina origem.
5) - a possibilidade de se realizar a transmutação da alma é sustentada pelos arquétipos,
elementos estruturantes da psiqué, padrões e formas dominantes que organizam o ego,
complexo do nível consciente, assim como as demais partes que se confrontam na arena
psíquica: a sombra - geralmente identificada pelos aspectos rejeitados, não assimilados que
permanecem subliminares na inconsciência; a persona - cuja base arquetípica permite a
adaptação ao mundo exterior, de relação, integrando a consciência coletiva no indivíduo etc.
6) - dos arquétipos - do pai, da mãe, do puer, da puella, do senex, do animus, da anima e outros - o principal, é o SELF (Si-mesmo), o que coordena, estrutura e corrige compensatoriamente os desvios das ações conscientes. Representa a imagem de Deus em nossa alma, o Deus interior, o Cristo imanente, objeto constante da busca gnóstica pelo conhecimento e pela devoção.
7) - por último, a relação dual entre matéria e espírito, se é resolvida por alguns gnósticos pela
negação da primeira e até por sua tentativa de supressão, por outros, mantido embora o
dualismo, a matéria é considerada divina, por ser o Templo que abriga o espírito e, assim, é
considerada e respeitada. Alguns gnósticos chegaram ao extremo de supor que nada do que
fosse materialmente feito poderia afetar o espírito, razão pela qual permitiam-se até exageros e
licenciosidades, condenados pelos demais (Carpócrates).
8) - ABRAXAS é a energia psíquica, a vida criativa que confere significado a partir da ilha da consciência que emerge do inconsciente. O mergulho neste, no entanto, exige o afastamento do espetáculo feérico da vida ativa sustentada por ABRAXAS.

Os Sete sermões representam a descida pelo setenário do Pleroma à psiqué humana, a criadora das imagens, sendo o homem o mediador entre as duas eternidades, e a sincronicidade o ponto de encontro entre ambas. Trata-se do encontro entre a física subatômica e a psicologia analítica.
É o homem que dá significado através da consciência - reino das avaliações subjetivas - contactando e ativando emocionalmente o inconsciente e, assim, trazendo as imagens arquetípicas à luz da consciência. Sendo os arquétipos psicofísicos ou psicóides, eles se manifestam nos dois planos, o que caracteriza sua transgressividade.


O homem, como alquimista e sacerdote dessa nova gnose, é um modelo unitário da realidade com conexões causais e acausais, reconciliando espírito e matéria, na unidade do mundo, na síntese do unus mundus. Vida e espírito se reúnem: o espírito dá o significado, mas ele não é nada sem a vida...
Sem dúvida, que a natureza dual da condição humana aconselha o convívio sábio com estas forças instintivas, inconscientes, que deverão ser encaminhadas - pela GNOSE, pelo reconhecimento - à luz da consciência, que delas retirará a necessária energia para a Grande Obra, a saber a transmutação do chumbo em ouro, da matéria bruta em matéria sutil, ultrapassando os sete corpos, os 32 caminhos e as 50 portas - estreitas que sejam - para se chegar à flor de ouro, que jaz escondida no fundo de nossas almas. Achá-la é o desafio diuturno da vida de cada um de nós!
No entanto, é preciso precaver-se contra o falso otimismo do poder positivo da mente: é preciso estar sempre de olhos abertos, sabendo introvertê-los, para fugir da sedução de ABRAXAS, encontrando o Deus interior que realiza a própria transformação, como realidade psíquica, que dá significado à vida, engendrando o processo de individuação.

BIBLIOGRAFIA

1 - BAIGNET, M., LEIGH, R., e LINCOLN H. - O SANTO GRAAL E A LINHAGEM SAGRADA. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
2 - DOURLEY, J.P. - A DOENÇA QUE SOMOS NÓS: a crítica de Jung ao cristianismo São Paulo: Paulinas, 1987.
3 - FERRATER MORA, J. DICCIONARIO DE FILOSOFIA. Buenos Aires: Sudamericana, 1958.
4 - HOELLER, S.A. - A GNOSE DE JUNG E OS SETE SERMÕES AOS MORTOS. São Paulo: Cultrix, 1990.
5 - - JUNG E OS EVANGELHOS PERDIDOS: uma apreciação junguiana sobre os Manuscritos do Mar Morto e a Biblioteca de Nag Hammadi. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1993.
6 - JUNG, C.G. - SÍMBOLOS DA TRANSFORMAÇÃO
7 - LAPERROUSAZ, - OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
8 - SCHUON, F. - GNOSIS, lenguaje del Si. Trad. do francês por José Manuel de Rivas. México: Heliópolis, 1993.
9 - VOEGLIN, E. - CIENCIA, POLITICA Y GNOSTICISMO. Madrid: Rialp, 1977.

* Livre-Docente e Doutora em Ciências pela UERJ. Pesquisadora da obra de Jung, com livros e artigos publicados.

mitologia classica: venus, A Estátua e o Andrógino:


do Arquétipo à Função
Rosário Ferreira
Universidade de Coimbra

Resumo - Esta comunicação pretende mostrar como, da mesma forma que os mitos, também muitos textos literários se encontram em relação com as imagens arquetípicas que, segundo Jung, constituem o inconsciente colectivo. Dada a sua maior afinidade com a lógica do imaginário, os textos da esfera do maravilhoso ou do fantástico são particularmente adequados para ilustrar o fenómeno de discursivisação dos arquétipos e para pôr em evidência a forma como certos elementos, disfuncionais do ponto de vista narrativo, encontram a sua funcionalidade no plano simbólico. Assim, seleccionaram-se dois textos integráveis nestas categorias – uma das Cantigas de Stª Maria, de Afonso X, e o conto La Vénus d'Ille, de Mérimée – e procedeu-se à sua análise comparada, que permitiu hipotetizar que, na génese de ambos, se encontra um dos mais caracterizados arquétipos junguianos – o andrógino; em seguida, estendeu-se a possível influência deste arquétipo a um leque mais largo de textos literários.
As potencialidades do andrógino enquanto imagem estruturante de uma realidade enigmática estão já implícitas no Banquete de Platão; contudo, a androginia é um tema que, talvez pelo seu comprometimento com a vertente sexual do homem, marginalizada na tradição filosófica ocidental, só na segunda metade do séc. XX parece ter sido reabilitado na qualidade de objecto de estudo de ramos do conhecimento perfeitamente respeitáveis. A história das religiões, nomeadamente, tem-se debruçado sobre o mito do andrógino, revalorizado pela afirmação de Mircea Eliade de que "se trata de um arquétipo universalmente difundido"(2) e pela sua conclusão de que, sobredeterminando o significado da coexistência de sexos numa divindade,
"A androginia é uma forma arcaica e universal de exprimir a totalidade, a coincidência dos contrários, a coincidentia oppositorum. Mais do que uma situação de plenitude e de poder sexual, a androginia simboliza a perfeição de um estado primordial, não condicionado. [...] Entenda-se que a androginia se toma uma forma geral de exprimir a autonomia, a força, a totalidade; dizer de uma divindade que é andrógina é o equivalente de dizer que se trata do ser absoluto, da realidade última"(3).
O mito do andrógino é, assim, redimensionado no seu valor gnoseológico e ontológico, não só porque, ao ser assimilado a um arquétipo jungiano, passa a ser encarado como um padrão tipicamente humano de percepção e apreensão do real(4), mas ainda porque a imagem paradoxal da androginia se amplia semanticamente numa poderosa representação do mistério da realidade total, vista como transcendência dos contrários.
Ainda que seja possível, como mostra Jean Libis(5), encontrar traços da nostalgia do andrógino em religiões centradas numa divindade masculina todo-poderosa, é com os mitos e os ritos orgiásticos e sacrificiais ligados aos cultos arcaicos da Grande Deusa, a terra, senhora da vida e da morte, que o arquétipo apresenta uma afinidade essencial. Com efeito, o andrógino, figuração da coincidentia oppositorum, ao ilustrar a coalescência dos sexos, simboliza a mediação dos contrários que vai, segundo Gilbert Durand(6), tornar possível a ciclicidade temporal conducente ao exorcismo do tempo. Assim, nas palavras deste autor,
"O andrógino, microcosmos de um ciclo onde as fases se equilibram sem que uma seja desvalorizada em relação à outra, não é, no fundo, senão um "símbolo de união". É a díade por excelência, que põe igualmente em relevo as duas fases, os dois tempos do ciclo"(7).
Ora, passando do universo dos arquétipos para o dos mitos, esta díade androgínica, paradigmaticamente figurada, segundo Groddeck(8), na união pré-natal mãe/filho, desdobra-se, por exigências narrativas, no par Grande Deusa/pequeno deus. Todavia, a resistência da imagem arquetípica ao processo de discursivização manifesta-se na redundância do semantismo que, na opinião de Gilbert Durand(9), caracteriza os mitos. Assim, tendo em conta a sinonímia de bissexualidade e assexualidade referida por Marie Delcourt(10), a androginia inscreve-se repetidamente no mito: a Grande Deusa, amalgamando características maternais e terrificantes, surge muitas vezes como duplamente sexuada, e o destino do seu filho/amante passa geralmente pela castração.
Este fenómeno é claramente ilustrado pelo episódio dos amores de Agdístis e Átis, inserido no complexo mítico associado ao culto de Cibele, a Grande-Mãe frígia. Agdístis, filho da terra e de Zeus, é um hermafrodita de extraordinária ferocidade; os deuses, receando a sua violência, encarregam Baco de o emascular enquanto dorme, embriagado, à sombra de uma árvore. Como fruto final da fecundação da terra pelo sangue de Agdístis surge Átis, um adolescente maravilhosamente belo, figura emblemática do pequeno deus sacrificial, por quem Agdístis, agora na sua fase feminina, se apaixona. Durante algum tempo, Átis parece corresponder a este sentimento, mas deixa-se induzir ao casamento com a filha do rei de Pessinonte. Agdístis interrompe a boda, espalhando a loucura entre os presentes que, tomados de pânico, se auto-emasculam; Átis foge apavorado, castrando-se e deixando-se morrer à sombra de um pinheiro(11).
É pregnante neste mito a recorrência da androginia, figurada quer como cumulação dos dois sexos no mesmo indivíduo (Agdístis, Baco) quer como anulação da diferenciação sexual a que corresponde a castração (Agdístis, Átis, e todos os homens presentes na boda)(12). Além disso, levando ao extremo o redobramento semântico, Agdístis, simultânea e sucessivamente homem e mulher, é um avatar quer da Grande Deusa quer do pequeno deus, condensando em si as potencialidades de ambos e ilustrando a fusão e a virtual identidade dos elementos da díade, como nota Jean-Jacques Walter(13).
Foi a este contexto mítico-simbólico, dominado pela obsessão da androginia, que me levou a análise comparada do n· 42 das Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio, datadas do séc. XIII, com o conto fantástico La Vénus d'Ille de Prosper Mérimée, publicado em 1834. Entre estes textos, separados por seis séculos, existe uma flagrante semelhança temática já notada por Keller e Kinkade(14): em ambos, um jovem de vida sentimental atribulada coloca no dedo de uma estátua (representando num caso a Virgem, noutro Vénus) um anel de noivado que receia estragar ao jogar à bola. A imagem encolhe o dedo, impedindo a recuperação do anel. O casamento do rapaz é celebrado, mas, chegada a noite, a divindade ultrajada interpõe-se entre os noivos: no primeiro texto, leva o jovem a encerrar-se num convento; no segundo, é, aparentemente, o agente da sua morte.
Estas narrativas, escritas, segundo tudo indica, sem conhecimento uma da outra, são apenas dois exemplos da atenção que, ao longo dos tempos, tem suscitado a lenda da estátua, cujas primeiras versões escritas parecem ser os sucintos relatos de Hermann Corner(15), aparentemente ainda do séc. XI, e de Guilherme de Malmsbury, no séc. XII. Esta lenda foi sucessivamente retomada, quer na sua forma pagã original, quer em versões cristianizadas, por Vincent de Beauvais, Gautier de Coincy, Gonzalo de Berceo, Santo Antonino de Florença, Enrique Kornman, Martin del Rio, o barão de Eichendorf e Heinrich Heine, entre outros.
Tanto na Cantiga n·42 como na Vénus d'Ille se nota um adensamento da estrutura mítica já implícita nas versões primitivas, conseguido por meio da adjunção de novos elementos narrativos que, ao permitirem o estabelecimento de cadeias de isomorfismos entre os dois textos, vão contribuir para a clarificação da coerência simbólica de cada um deles.
Verfica-se que, em ambos os textos, a estátua surge associada a um conjunto de características que remetem para o simbolismo cíclico da Grande Deusa, sendo, por um lado, indiciada a sua natureza ctónica, conotada com os poderes subterrâneos, e, por outro, sugeridas as suas potencialidades enquanto divindade agrária. Assim, na cantiga, a imagem é levada do interior da igreja "que querian renovar/ hüas gentes" para a praça onde "avia/ un prado mui verd'assaz/ en que as gentes da terra [...] jogavan à pelota"; na Vénus, a estátua é descoberta ao ser desenraizado "un vieil olivier qui était gelé de 1'année dernière"(16) – o que leva a pensar que a historia se desenrola na Primavera –, sendo colocada "à l'angle d'une haie vive qui séparait un petit jardin d'un vaste carré [...] qui [...] était le jeu de paume de la ville". A estátua é, pois, real ou simbolicamente desenterrada (Gilbert Durand(17) assinala o isomorfismo da terra, da gruta, da capela e do túmulo), sendo a ideia de renascimento e de renovação, assim sugerida, apoiada pela conotação de fertilidade associada ao local da sua nova colocação e ampliada ainda pela noção de alternância ligada ao valor do jogo como símbolo da ordem do mundo(18), figuração ritual da luta entre as forças da luz e da vida e o poder das trevas e da morte. Se na cantiga este aspecto é apresentado com bastante discrição(19), na Vénus revela-se mais claramente quando os adversários surgem – o protagonista, Alphonse, "pâle", e o seu oponente, o Aragonês, "presqu'aussi foncé que le bronze" – contrastando cromaticamente como peças de xadrez, o jogo cósmico por excelência, como mostra Burckhardt(20). A estátua impõe-se, pela sua localização, como árbitro do jogo(21), detentora da ordem cósmica que pode preservar, assegurando a alternância cíclica ou, pelo contrário, romper, instaurando ou perpetuando o estado de "terra gasta" – como virá a acontecer no final da Vénus, quando as vinhas gelam sucessivamente em Ille.
Um outro aspecto interessante é a insistência no facto de a estátua(22) ser primordialmente o sujeito, e não o objecto, do amor – e de um amor inquietante. Esta ideia é repetidamente expressa no refrão da cantiga "A Virgen [...] dos que ama é ceosa [...]"; no conto, é posta em evidência na inscrição "cave amantem", interpretada pelo narrador como "prends garde à toi si elle t'aime". Tal constatação é tanto mais digna de nota quanto é nítido o seu contraste com situações tópicas no contexto literário em que estas obras se integram. Assim, nas Cantigas de Stª Maria, a maior parte dos milagres é, inversamente, propiciada pela devoção, logo pelo amor, da personagem central à Virgem. Do mesmo modo, na novela Le dernier des Bracciano, onde, segundo Jean Decottignies(23), Merimée se terá inspirado para o desenlace do seu conto, a tragédia é despoletada pelo amor apaixonado que o herói vota a uma estátua de Vénus; ora, Alphonse, o protagonista da Vénus d'Ille, é apresentado como incapaz de qualquer sentimento amoroso profundo. Trata-se de uma personagem dada a amores fáceis e venais, como nota Jacques Chabot(24), saudosa da vida de estúrdia que tinha conhecido em Paris e destituída de qualquer noção de fidelidade, pois na manhã do casamento traz ainda no dedo um anel, presente de uma antiga amante, não hesitando em oferecê-lo à noiva em substituição do que a ela era destinado mas se encontrava retido na mão de Vénus. A sua atitude face ao casamento, mostrando-se, segundo o chocado comentário do narrador, "plus touché de la dot que des beaux yeux de sa future", enquadra-se perfeitamente nesta síndrome de incapacidade amorosa. O mesmo tipo de diagnóstico psicológico pode ser feito relativamente ao jovem e inconstante protagonista da Cantiga 42, "un mui falss'amador/ que amÿude cambiava/ seus amores dun en al" e que, após uma breve enfatuação pela beleza da imagem da Virgem, volta para a "amiga primeira", com quem se casa não por desejo próprio mas "per prazer dos parentes"(25).


Nenhum destes pouco fervorosos apaixonados consumará o casamento, o que está perfeitamente de acordo com a tradição da lenda. Contudo, ao simples impedimento causado pela presença da divindade desdenhada, substituem-se ou acrescentam-se aqui vários processos que não só permitem, mais uma vez, o estabelecimento de um paralelismo entre o funcionamento simbólico dos dois textos, mas me parecem muito significativos dado ser possível assimilá-los a elementos bem conhecidos dos ritos da Grande Deusa. Assim, em ambos os casos, é indiciada a impotência do noivo, impotência essa mediatizada pela inconsciência e a possessão, características, segundo J. J. Walter(26), do orgiasmo ritual. Na cantiga, o sono, enviado pela Virgem "pera os partir", impede o noivo de se aproximar da sua desposada; além disso, os seus sonhos são povoados pela visão da Virgem sob um aspecto de tal forma ameaçador que o jovem, tomado de pânico, se levanta e foge, castrando-se simbolicamente ao fazer-se monge numa ermida. Na Vénus, a boda adquire uma conotação orgiástica, e é nesse contexto que o vinho, tradicional adjuvante dos estados de possessão ritual prévios a um sacrifício (como a castração) ou a uma hierogamia(27), age sobre o noivo: este encontra-se "pris de vin", o que é simbólica e funcionalmente equivalente a estar possuído pela deusa. Paradoxalmente, é com base em especulações acerca dos efeitos do vinho sobre a virilidade masculina – "prennez garde!", adverte o narrador, "on dit que le vin..." – que, como nota Jacques Chabot(28), vai ser criada em torno de Alphonse uma sugestão geral de impotência. Mas não é apenas neste passo que se manifesta a natureza terrífica e as potencialidades nefastas da Vénus: sabemos que, mal é retirada da terra, cai sobre a perna de um dos dois homens que a desenterram, Jean Coll, deixando-o coxo para toda a vida. Como é bem conhecido, a ferida na perna, cujo exemplo paradigmático é a do rei pescador do Graal, é simbolicamente equivalente à impotência ou à castração(29), e está em relação com a esterilidade da terra. Ora Jean Coll, que desastradamente ferira a estátua com um golpe de picareta ao desenterrá-la, é em Ille o único jogador de pelota à altura de Alphonse – "c'était lui qui faisait sa partie" – funcionando, assim, como seu duplo, de modo que esta castração simbólica prefigura o destino do herói. Além disso, a vingança da deusa estende-se para além dos acontecimentos relatados, pois o fatídico ressoar do bronze, que já Jean Coll tinha provocado com a sua picareta, é amplificado pela refundição da estátua num sino cujas badaladas sonoras propagam em Ille a esterilidade: as vinhas gelam, e, com a ausência de vinho, é impedida a possibilidade de uma nova orgia propiciadora da renovação. A alternância cíclica é interrompida e a "terra gasta" instaurada em perpetuidade.
A divindade ctónica representada pela estátua, terrífica e castradora, desenha-se assim como uma figuração da Grande Deusa, e o casamento interrompido impõe o paralelismo com a boda frustrada do pequeno deus Átis, no episódio mitológico relatado acima(30).
O enquadramento dos textos em análise neste contexto mítico-simbólico parece-me pertinente, pois permite que certos elementos do discurso, cuja funcionalidade se encontra não no nível narrativo mas no plano simbólico, adquiram a sua plena signifícância. Resquícios da redundância semântica do mito, estes elementos sobrepõem-se à coerência da narrativa, que por vezes parecem enfraquecer, encontrando-se espalhados no texto como que ao acaso – mas um acaso ordenado pela lógica profunda dos arquétipos. Tal é o caso, nestes textos, dos indícios de androginia que marcam as personagens centrais: a estátua e o jovem. Bastante explícitos no conto, em que a caracterização das personagens é relativamente detalhada, estes indícios são quase subliminares na cantiga; a análise comparativa permite, contudo, afirmar que estão presentes.
Referi acima o modo como se inscrevem nestes textos a impotência e a castração simbólica do protagonista, conduzindo-o a um estado final de anulamento sexual; mas estes elementos, aqui privados da sua dimensão sacrificial, foram narrativamente aproveitados numa relação causal com a ira da divindade a quem é recusada uma hierogamia, pelo que a sua função nos textos é perfeitamente clara. O que se toma curioso notar, pois não encontra explicação no nível narrativo, é a existência, desde o início dos relatos, de alguns traços subtis que, ao marcarem as personagens masculinas centrais com o estigma da imaturidade, minam de alguma forma a sua virilidade.
Assim, o jovem da cantiga, contrastando com os outros jogadores, referidos como "omeens mancebos", é repetidamente chamado "donzel", o que não só põe em evidência a sua extrema juventude mas indicia ainda uma certa incapacidade física: o donzel, jovem que não foi ainda armado cavaleiro, não viu reconhecido o seu direito a ser iniciado nas tarefas propriamente masculinas. Já no conto de Merimée, a pujança física do herói, "un grand jeun'homme" de quem o narrador gaba as "formes athlétiques", bem como a sua idade, 26 anos, pareceriam, à primeira vista, impedir qualquer veleidade de efebização da personagem; contudo, a incapacidade de acção que caracteriza Alphonse, potenciada pelas ressonâncias simbólicas da forma como é referido ao longo de todo o texto – "monsieur le fils" – , contraria de tal forma o seu estatuto de adulto que Jacques Chabot, num ponto da sua análise, como que esquecido da idade do herói, lhe chama "adolescente narcísico"(31). Talvez venha a propósito lembrar aqui as considerações de Marie Delcourt(32) acerca de Dioniso, figura caracterizada do pequeno deus, cujo aspecto de adolescente grácil corresponderia a uma desfiguração através da efeminação da sua dupla natureza sexual. Ora, se no jovem do milagre não encontramos nenhum sinal claro de feminilidade, o mesmo já não se pode dizer de Alphonse: o seu dandiismo(33) leva-o a manifestar admiração pela corrente do relógio do narrador, atitude esta que tem um paralelo exacto no interesse que, no conto Carmen de Merimée, a heroína demonstra justamente pelo relógio do narrador. Tal coincidência sugere que o autor caracteriza em Alphonse uma personagem parcialmente dominada pelo princípio do feminino.
Um outro aspecto interessante, ligado agora à imaturidade psicológica das personagens, é a sua falta de autonomia, simbolizada na apatia face ao casamento, já referida acima: nenhum dos protagonistas se casa por decisão própria, mas por uma questão de sintonia com a família(34). Trata-se, portanto, de heróis sem vontade e sem poder – o que é facilmente assimilável a uma falta de virilidade. E, neste contexto psicológico, a própria inconstância das personagens, sintoma de incapacidade amorosa que indicia, talvez, uma imperfeita identidade, pode também ser contrária à afirmação da sua masculinidade.
Tanto Alphonse como o donzel surgem assim sob o signo, senão da ambiguidade, pelo menos da indefinição sexual.
Quanto à estátua, apresenta em Mérimée uma acentuada ambivalência sexual que não é apenas insinuada ao longo do texto mas abertamente anunciada na epígrafe tomada de Luciano: "Que esta estátua nos seja favorável e propícia, uma vez que é semelhante a um homem". No seu estudo sobre La Vénus d'Ille, Jacques Chabot(35) debruça-se exaustivamente sobre a impressão de "inquietante estranheza" transmitida pela estátua, cuja caracterização assenta sobre um conjunto de contradições: morta/viva, negra pelo corpo/branca pelos olhos, bela/feroz, e sobretudo, fálica, apesar de mulher. Entre as características que veiculam a duplicidade sexual da Vénus, este autor assinala a sua pose masculina, na posição do "joueur de mourre", e o poder viril do seu olhar, pois "elle faisait baisser les yeux à ceux qui la regardaient", submetendo-os, assim, ao seu domínio.
Como mostra Marie Delcourt(36), as representações de Afrodite e Vénus como deusas duplamente sexuadas, geralmente associadas à fertilidade, não são raras; mas a estátua que encontramos na Vénus d'Ille não se enquadra de forma alguma neste âmbito: representa, pelo contrário, uma divindade violenta, assustadora, caracterizada pelo desequilíbrio, pois nela o aspecto maternal é completamente esmagado pelas características terrificantes. É bem uma hipóstase de Agdístis, o hermafrodita furioso, cuja violência, explicitamente ligada à virilidade(37), só a emasculação poderia controlar. E é precisamente isso que os rapazes da aldeia, ao quererem arrancar à Vénus os brilhantes olhos de prata, pretendem fazer: anular o seu potencial nefasto através de um acto que, como nota Jacques Chabot (ver nota 34) representa uma castração simbólica. Pelo contrário, a fusão da estátua em sino, incorporando na liga a prata dos olhos – cujas propriedades sonoras são bem conhecidas –, irá ainda reforçar e perpetuar o seu poder maléfico.
Na Virgem da cantiga, os traços de duplicidade sexual estão muito mais apagados, mas o estudo comparativo permite defender que se encontram presentes no potencial terrificante por ela revelado durante o sonho do jovem(38).
Assim, a sombra do andrógino parece projectar-se, com maior ou menor incidência, sobre a estátua de Vénus e a imagem da Virgem, reforçando o que tínhamos já verificado relativamente aos seus involuntários prometidos. Mas, ao contrário do que seria de esperar a partir da citação de Eliade apresentada no início deste trabalho, nenhuma destas quatro figuras mostra, quando considerada individualmente, corresponder à perfeição do "ser absoluto, da realidade última". E isto talvez porque, no fundo, não são, de acordo com a definição de Durand, "símbolos de união", mas, pelo contrário, produtos imperfeitos da cisão da díade androgínica, cuja plenitude simbólica só se poderia revelar numa nova fusão. Assim sendo, as personagens destes relatos funcionam, de certa forma, como arquétipos invertidos, uma vez que, separadamente, não representam a coincidentia oppositorum, ilustrando antes um estado de incompatibilidade dos contrários. São imagens completamentares na sua imperfeição(39).
Na Vénus d'Ille, a harmonia androgínica, perdida quando gelou a oliveira, símbolo da fusão da Deusa e do filho (ver nota 15), é fugazmente recuperada durante o jogo em que Alphonse, indiferente ao seu próximo casamento, coloca o anel no dedo da estátua e ganha a partida, assegurando simbolicamente a fertilidade para Ille. Nas palavras do narrador, "Allors je le trouvai vraiment beau; il était passionné". Mas trata-se de um estado passageiro, e o conto termina em plena disforia, com a morte do herói e a amplificação pelo sino das virtualidades nefastas da estátua.
Já a Cantiga 42 apresenta um desfecho completamente diferente. Aqui, a hierogamia, recusada numa primeira fase, acaba por se cumprir simbolicamente no sacrifício a que corresponde o encerramento do jovem na ermida (ver nota 26). A díade funde-se, pois o donzel "en toda sa vida [...] serviu a Santa Maria" e a plenitude androgínica manifesta-se, nas palavras de Mircea Eliade, na "perfeição de um estado primordial", "da realidade última", dado que a Virgem "o levou pois conssigo [...] deste mund'a Parayso".
Creio que, após esta análise, não parece abusivo conceptualizar estes dois textos como concretizações narrativas de potencialidades significativas opostas da imagem arquetípica do andrógino: a beatitude da existência androgínica (na cantiga) e a tragédia do andrógino despedaçado (na Vénus). Em ambos os casos, precisamente por se tratar de textos situados na esfera do maravilhoso ou do fantástico – onde a ordem do imaginário se substitui às leis da realidade –, é nítida a relevância dos indícios de androginia que, durante o processo de narrativização do arquétipo e de fixação de funções, terão permanecido associados às personagens. Com efeito, embora não sejam funcionais do ponto de vista da intriga, estes indícios subtendem toda a coerência simbólica dos relatos.
A aproximação entre esta lenda e o mito de D. João vem, ainda, reforçar a ideia da androginia essencial da díade estátua vingadora/amoroso inconstante aniquilado. Aqui, a estátua reveste o aspecto masculino do homem que D. João matou, mas a sua androginia potencial manifesta-se na crescente funcionalidade que adquire no mito uma das vítimas do sedutor, a filha do morto. Com efeito, segundo Jean Rousset(40), Ana, a filha do comendador assassinado por D. Juan, sendo em Tirso de Molina uma figura quase ausente, apresenta-se em Da Ponte/Mozart e nos românticos como um prolongamento da presença da estátua, que será, afinal, o instrumento da sua vingança. A função da estátua passa, pois, a ser desempenhada por uma dupla constituída por um elemento feminino e outro masculino; e, aproximando-se insensivelmente do arquétipo da fusão androgínica, a função vingadora tinge-se em breve de motivações amorosas-engolidoras. Assim, em Hoffmann(41) podemos ler: "Dom João procura em vão arrancar-se ao abraço de Dona Ana. Mas será que o deseja verdadeiramente?"
Quanto à personagem de D. João, vários autores detectam nela uma predominância de características do feminino. Para Marc Eigeldinger(42), o Don Juan de Musset "não representa uma figura de virilidade. A anima, no sentido em que a entende C. G. Jung, sobrepõe-se nele à masculinidade; é determinado pela predominância da componente feminina no interior da psique"; Álvaro Manuel Machado(43) refere o carácter hermafrodita do D. João de Rilke; Gregório Marañon(44) defende mesmo que D. João é, sem o suspeitar, homossexual. Mais uma vez encontramos, na minha opinião, indícios da inadequação da diacronia do discurso para exprimir a instantaneidade da imagem arquetípica. A dita homossexualidade de D. João, totalmente disfuncional no mito, não passa de uma interpretação abusiva dos traços feminóides que reflectem no texto a sua existência de pequeno deus no mundo paralelo dos arquétipos.
Alargando o campo de estudo de forma a abranger géneros literários de pendor mais "realista", penso que seria interessante proceder a uma análise comparativa entre os dois textos sobre os quais incide este trabalho e obras baseadas no fecundo tema da paixão de uma mulher madura por um jovem, no sentido de investigar a recorrência do mesmo tipo de ambiguidade sexual das personagens(45). Tal constatação sugeriria que a nostalgia do andrógino poderia estar, de alguma forma, em relação com a génese destas obras. Esta hipótese é heurística na medida em que pode abrir novas linhas de interpretação ou fundamentar intuições aparentemente não apoiadas.
Para terminar, gostaria de referir o facto de a metodologia seguida neste trabalho parecer demonstrar que, do mesmo modo que as narrativas mitológicas, a literatura fantástica ou maravilhosa pode, enquanto mediadora entre o imaginário e o restante corpus literário, desempenhar um importante papel na identificação de famílias de textos decorrentes da mesma imagem arquetípica.

(1)comunicação inédita, apresentada no «Encontro sobre mundos alternativos na Literatura», Fundação das casas de Fronteira e Alorna, Lisboa, 11 a 13 de Dezembro de 1992.
(2) Mythes, Rêves et Mystères, Gallimard, Paris, 1957, p. 216. Cabe à autora a responsabilidade da tradução desta e das restantes citações, de obras teóricas ou críticas, incluídas no texto.
(3) Op. cit., pp. 215-216.
(4) The Portable Jung, ed. Joseph Campbell, Penguin, Harmondsworth, 1976, p. 52.
(5) Le Mythe de 1'Androgyne, Berg, Paris, 1980, I, cap. 3.
(6) Les Structures anthropologiques de 1'Imaginaire, Dunod, Paris, 1992, (1a ed. 1969), p. 337.
(7) Op.cit., p. 335.
(8) Apud J. Peignot, Les Jeux de l'Amour et du Langage, U.G.E., Paris, 1964, p. 15.
(9) Op. cit., p. 431.
(10) Hermaphrodite, P.U.F., Paris, 1958, p. 49.
(11) É de notar que, neste mito, a castração ocorre repetidamente integrada numa constelação de elementos — a árvore, a orgia (aqui representada pelo vinho ou pela festa) e a inconsciência (do sono ou da loucura) — que se mantém invariante.
(12) A castração ritual era, aliás, praticada pelos galli, os sacerdotes eunucos de Cibele.
(13) Psychanalyse des Rites, Denoel-Gonthier, Paris, 1977, pp. 126, 53 e ss.
(14) Apud Nuno Júdice, "Le motif dans la construction de 1'espace du récit", in Actes du XIIème Congrès de l'Association Intemationale de Littérature comparée, Munique, 1988, vol. II, pp. 431-435, n. 3.
(15) Segundo Pierre-Georges Castex, Le Conte fantastique en France de Nodier à Maupassant, Corti, Paris, 1951, "uma cronica latina de Hermann Corner, redigida no século XI, atribui um feito semelhante a uma Vénus".
(16) J. J. Walter, op.cit., pp. 62 e ss., considera que a árvore, sendo simultaneamente um símbolo da Grande Deusa e do pequeno deus, representa a sua fusão, o que é equivalente a dizer que figura uma hierogamia permanente. A morte da oliveira pode, pois, ser encarada como uma separação entre os elementos da díade, que só será sanada por meio de uma hierogamia ritual.
(17) Op. cit., pp. 274-276.
(18) Ver Jean-Marie Lhôte, Le Symbolisme des Jeux, Berg, Paris, 1976, pp. 37, 42.
(19) Sabemos, contudo, que Afonso o Sábio conhecia o simbolismo cíclico do jogo, como demonstram os seus Libros de Acedrex, datados de 1283.
(20) "Le symbolisme du jeu des échecs", in Le Symbolisme, Arché, Milão, 1979, pp. 19-27.
(21) J. M. Lhôte, op. cit., p. 47.
(22) Cuja beleza, ao contrário do que sucedia nas versões primitivas, é enfaticamente afirmada em ambos os textos.
(23) "Quelques rapprochements sugerés par La Vénus d'Ille", Revue des Sciences humaines, 107, 1962, (pp. 453-461), p. 460.
(24) L 'Autre Moi, Edisud, Aix-en-Provence, 1983, pp. 149.
(25) Não pretendo sobrevalorizar este último aspecto, nem interpretá-lo de um ponto de vista próximo da exaltação dos sentimentos característica do Romantismo que se nota no conto. A concepção medieval do casamento está, pelo contrário, em perfeita consonância com a submissão do indivíduo ao interesse familiar posta em evidência na cantiga. Seja como for, não deixa de me parecer significativo o destaque dado aí a um tipo de atitude que, como refere Georges Duby (Mâle Moyen Age, Flammarion, Paris, 1990, pp. 37-38), não só é muito mais marcada no feminino do que no masculino, como tende a ser abafada nos textos literários coevos, dada a sua contradição com a visão do casamento que a Igreja procurava impor.
(26) Op. cit., pp. 91, 145 e ss. É interessante notar que, nos textos em análise, estes estados são induzidos pelo sono ou pelo vinho, que, significativamente, encontramos ligados à emasculação de Agdístis.
(27) J. J. Walter considera equivalentes, pelo seu sentido mítico, a hierogamia e o sacrifício (op. cit., p. 280).
(28) Op. cit., pp. 146-147.
(29) Convém notar que, em vários pontos da obra aqui citada, J. J. Walter refere a mutilação do pé como um substituto ritual da castração.
(30) Apenas como um aparte, julgo curioso mencionar aqui que também Agdístis é castrado junto de um pinheiro e que o convento onde o jovem da cantiga se recolhe fica "cabo un piñal". Mera coincidência? W. Warde Fowler (apud J. J. Walter, op. cit.) refere uma festa do culto de Átis, celebrada pelos romanos no equinócio da primavera, em que o tronco de um pinheiro abatido no bosque sagrado da Grande-Mãe, junto ao seu templo no Palatino, era honrado e chorado como o cadáver do pequeno deus. Ora as versões mais antigas da lenda de estátua – que, no entanto, não fazem qualquer referência à árvore – situam-na em Roma.
(31) Op. cit., p. 150.
(32) Op. cit., p. 37.
(33) Cuja significação, deslizando para narcisismo e daí para tendência homossexual, nos pode levar até à efeminação.
(34) O que, mais uma vez, leva a um paralelismo com o mito de Átis. Ver ainda, sobre a relevância sócio-cultural desta atitude, a nota 24.
(35) Op. cit., pp. 131-139.
(36) Op. cit., cap. II.
(37) A assimilação entre violência e virilidade vem corroborar a hipótese de Przylusky (apud J. J. Walther, op. cit., pp. 26-27 e 74) segundo a qual os nomes dos deuses masculinos Ares e Marte se aparentam com a série de nomes da Grande Deusa derivados da raiz ardvi, sendo que nestes deuses guerreiros apenas subsistiu o aspecto violento, mortal, da Deusa.
(38) Levando a análise um pouco mais longe — longe demais? — será talvez possível defender que, tal como Alphonse, embriagado e impotente, se encontrava possuído por Vénus, também o donzel, no sonho que o afasta da noiva, se encontra possuído pela Virgem; ora, no estado de possessão, como mostra J. J. Walter (op. cit., pp. 91-92), independentemente dos sexos respectivos, a divindade é comparada ao homem e o fiel à mulher na relação sexual.
(39) Por exemplo, Alphonse caracteriza-se pela imobilidade física e a falta de expressão; quanto à estátua, é até incomodativamente expressiva e, paradoxalmente, parece ter a faculdade de se mover.
(40) Ver J. Rousset et al., O Mito de D. Juan, Arcádia, Lisboa, 1981, p. 34.
(41) Apud J. Rousset, Le Mythe de Don Juan, Armand Colin, Paris, 1978, p. 59.
(42) Mythologie et Intertextualité, Slatkine, Geneve, 1987, p. 28.
(43) Ver J. Rousset et al., op. cit., p. 25.
(44) Apud Molière, Dom Juan ou le Festin de Pierre, ed. Anne Marie Marel e Henri Marel, Bordas, Paris, 1980, p. 124.
(45) Como exemplo, parece-me elucidativo mencionar Chéri, um dos mais conhecidos romances de Colette, cujos protagonistas são Léa, uma ainda muito bela cortesã à beira dos cinquenta anos, e Chéri, o seu jovem amante. Logo na página de abertura, surge Chéri, "un très beau et très jeune homme" que, numa cena cheia de movimento, dança e ri perante o espelho onde se reflecte a sua imagem adornada com o colar de pérolas de Léa, enquanto esta o contempla, silenciosa e majestosamente estendida no "grand lit de fer forgé et de cuivre ciselé, qui brillait dans l'ombre comme une armure". A contaminação da caracterização do jovem por traços femininos e da da mulher por elementos viris é de tal modo notória que chega a sugerir uma inversão dos papéis sexuais cuja pertinência narrativa o desenvolvimento do enredo se encarregará de negar. Contudo, as ressonâncias simbólicas desta apresentação das personagens, bem como de outros indícios da sua ambiguidade sexual espalhados ao longo do texto, ao revelarem a natureza androgínica da ligação entre Léa e Chéri, são muito possivelmente responsáveis pela adesão emocional que o romance suscita, transmutando-o em muito mais do que a história de uma cortesã decadente e do seu gigolo

MITOLOGIA NÓRDICA: Vikings INVADEM Lindesfarn


08 DE Junho 793 d.c Vikings INVADEM Lindesfarn
A data aceita pelos historiadores como o inicio da era dos Vikings foi a tomada do monasteiro na Ilha chamada Lindesfarne no Noroeste da GranBretanha.
Quem foram os Vikings?
Nome generico que engloba estes navegadores/guerreiros de paises como a Dinamarca, Suecia e Noruega. No pique de sua era eles controlaram a maior parte Do Norte da Eurapa , indo ate Constantinopla.
Era Viking de 780 ate 1070 (Kevin Crossley pg 14 Norse Myth - Gods of The Vikings)
Origem do nome Viking eh vaga. Porem, pensa-se que se originou do old Norse vik, que quer dizer enseada - qu descreve mais ou menos as costas maritimas da Escandinavia. Ou ate da palavra wik proveniente do Ingles antigo significando lugar de comercio.


Os Vikings que seguiram para o leste invadindo e colonizando a Finlandia , Greenland e Newfoundland eram em sua maioria Noruegueses.
Eric, o ruivo, chamava Greenland de Green, quando fundou a colonia de Brattahild.
Leif Ericson , chegou a Newfoundland no Canada e New England nos Estados Unidos.
Os Vikings que seguiram para leste do Baltico, navegando pelo Rio Volkhov to Novgorod, na sua maioria Suecos, carregaram seu barcos rolando-os em terra sobre troncos ate atingir Kieve, Black sea e Constantinopla.
Outro grupo (que denominava a si mesmos de RUS, seguiu de Novgorod ate o Rio Volga, navegando Sul ate o mar Caspio e Baghdad. Isto foi documentado por um diplomata Arabe de entao, chamado Fadlan.


Os Vikings que naveragam para o sul , colonizaram , Escocia, Irlanda e Inglaterra. Estes tambem invadiram a Franca indo ate o vale de Loire., Lisboa, Cadiz e Sevilha, Norte da Itali, Pisa e Sicily.

Hails Odin

Hails Unsar Guda Ases Jah Vanes
Hails Haithnu Thiuda
Hails Brothru's Visigoths

Esta mensagem eh minha contribuicao para a divulgacao da Historia Viking.

Witubni jah Maths

Arianrhod

mitologia egipcia: Egito: O Período Pré-Dinástico 2


4 – O Reino Antigo:
Como vimos, o período denominado Antigo Império (também chamado Reino Antigo) inicia-se com a III Dinastia, por volta de 2686. Mas qual foi a grande transformação que determinou que a Arqueologia (que, no caso específico do Egito, tem um nome mais apropriado: Egiptologia) e a História passassem a considerar o período iniciado com o Reinado de Sanakhte como sendo um período distinto daquele vivido pelas duas primeiras Dinastias Egípcias?



Bem, além do fenômeno da construção de pirâmides, que se inicia no governo de Djeser (ou Djoser), segundo Faraó da III Dinastia, outro forte dado para a escolha da III Dinastia como sendo o marco inicial do Antigo Império foi o provável estabelecimento da escrita hieroglífica (se bem que muitos estudiosos dessa escrita não concordem que as formas utilizadas no início do Antigo Império fossem as mesmas que se eternizaram como sendo o padrão de escrita hieroglífica clássica, encontrado, sobretudo, nos túmulos das Dinastias do Novo Império). Para este trabalho, aceitaremos a datação do início do Antigo Império na III Dinastia, mas entenderemos que o principal divisor de águas entre este novo período e seu predecessor seria tão somente a adoção de Hórus como nova Divindade Dinástica suprimindo o culto oficial de Set.

Baixo-relevo em parede mostra
ilustração de Djeser


4.1 – Os Semi-Deuses de Mênfis:

Os Faraós do Antigo Império governaram à partir da cidade de Mênfis, construída por Narmer e Aha no local tido como a mítica vila natal do Escorpião-Rei: Tura. Se esta procedência era verdadeira, não é possível saber, muito pelo fato de Mênfis não conter tantos resquícios arqueológicos quanto outras capitais Egípcias posteriores, como Tebas. Isso porque, pelo fato de a cidade se localizar praticamente no Delta, os índices pluviométricos, bem como os estragos causados pelas cheias do Nilo se fazem muito mais fortes; o que destruiu muitos possíveis achados.



Agora que o Egito estava definitivamente apaziguado e que já se podia contar com uma escrita (ainda que não totalmente definitiva) capaz de permitir a administração de longas faixas de terra (é bom que se saiba que aquilo que se entende como sendo o Egito compreende uma faixa de terra relativamente estreita que se localiza nas margens do Nilo nos seus últimos 1200km antes de atingir o Mediterrâneo), era chegada a hora de se estabelecer um regime que proporcionasse sua eterna continuação. Algo precisaria ser criado nesse sentido.

Com o intuito de se eternizarem no poder, os soberanos, devem, por volta do final da II Dinastia, ter se feito proclamar criaturas divinas. Isso talvez não fosse algo absurdo para aqueles homens e, possivelmente teria sido uma mera amplificação das atribuições dos antigos Reis-Heróis dos Spat Pré-Dinásticos. Na medida em que um desses Reis conseguiu se sobrepor aos demais e se fazer proclamar Faraó, o Rei do Alto e do Baixo Egito, era mais do que natural que só o tivesse podido fazer pela graça dos Deuses e, sendo assim, a idéia de que ele próprio fosse um “Escolhido dos Deuses” e, posteriormente um “Deus Vivo” não constituía um delírio, algo inaceitável pela população.

Há que se lembrar que o Egito não contava com nenhum meio de comunicação que não fosse o Nilo, ou seja, as notícias corriam, em geral através de convocações Estatais e histórias contadas de boca-a-boca, levadas Nilo acima e Nilo abaixo por mercadores, viajantes e oficiais do Faraó. Sendo assim, um indivíduo de tamanho poder, vivendo num palácio numa cidade mitológica, sobre o qual se contavam histórias incríveis seria naturalmente digno de temor, senão de adoração (ou talvez ambos); como um verdadeiro Deus.

A deificação do faraó se concretiza na III Dinastia e esta aliada à crença (agora reforçada pela descoberta da mumificação) na vida após a morte, tendia a transformar o poder do soberano algo incomensurável dentro dos padrões humanos.


4.2 – A Maat e o Espírito do Egito:

É impossível se estudar a História do Egito Antigo sem se mencionar e, principalmente, se compreender o conceito de Maat. Não é possível, no entanto, conceber com exatidão quando este conceito começou a ser formulado pelos Egípcios, porém, algumas sugestões podem ser dadas a esse respeito (farei isso, contudo, neste mesmo item, porém, após a explicação do que é a Maat).

Maat é uma palavra Egípcia cuja tradução literal implicaria em dois termos distintos, se bem que afins: Verdade e Justiça! Essa era a base sociedade Egípcia e, toda vez que este conceito era abalado, algo acontecia de muito grave no Vale do Nilo.

Para os Egípcios, a Maat estava relacionada à idéia de Ordem, de continuidade, ou seja, se tudo continuasse como sempre foi (camponeses trabalhando, guerreiros guerreando, governantes governando, o Faraó organizando tudo e prestando culto aos Deuses...), a Justiça e a Verdade estariam sendo cumpridas e espalhadas pelo Egito. Porém se algo abalasse a Ordem (algo simples como a morte do Faraó, ainda que por causas naturais), então a Maat estaria em risco.

Como foi afirmado, não é possível precisar quando esse conceito foi estabelecido, mas o mais provável é ele seja o resultado de uma busca por estabilidade político-social no Período Proto Dinástico (I e II Dinastias) enfim alcançada. É certo, porém, que para ter se tornado um conceito universal dentro do Egito, sendo cultuado e aceito por cada indivíduo desde o mais humilde camponês até o próprio Faraó e sua corte, a Maat não pode ter sido meramente formulada num dado momento e imposta à força à população, por isso, é provável que seu conceito seja uma reelaboração (e talvez até uma revisão) de costumes mais antigos, que talvez remontassem a épocas longínquas onde a população ainda era nômade. Aliás, uma boa teoria para o surgimento do conceito de Maat seria a idéia de diferenciação entre os povos sedentarizados das margens do Nilo e os povos ainda nômades que vagavam pelo deserto acampando e se estabelecendo temporariamente em oásis.

Quando um Faraó morria, o período de tempo até que um outro soberano assumisse o poder era um período de conturbações onde a Maat corria sérios riscos. As crenças populares relacionavam anos de cheias irregulares (muito altas (capazes de destruir vilas e casas ao invés de ajudar com o humos restaurador da vida) ou muito baixas (o que trazia a certeza de más colheitas e, portanto, de fome)) do Nilo com distúrbios na Maat. Tamanha era a crença na Maat que não é difícil relaciona-la com uma modificação na teoria da vida após a morte surgida no início do Antigo Império, ou seja, esta estaria agora totalmente dependente da Maat. Vejamos:

Se o Faraó era o enviado dos Deuses os Egito para assegurar a manutenção do Reino, cabia a ele, acima de qualquer outro, zelar pela Maat. Se seu governo tivesse sido bom e, dessa forma do agrado dos Deuses, então o Faraó mereceria culto por muitos e muitos anos (virtualmente pelo resto da eternidade), sendo assim, seria eterno no pós-morte. Se o Faraó fosse eterno no pós-morte, ele continuaria exercendo por lá o mesmo papel que exercia em vida, ou seja, o de governante e, dessa forma, precisaria de um Estado para governar. Esse Estado seria composto pelos indivíduos que habitavam o Egito enquanto ele era vivo e que, dessa maneira foram beneficiados por sua competente manutenção da Maat. Sendo assim, se o Faraó fosse bom e vivesse para sempre, logo todo o Egito viveria, ou seja, a vida após a morte dos indivíduos do Antigo Império não era individual, mas ligada ao Espírito do Egito: a Maat. Esta, por sua vez era dependente do bom governo do Faraó que, por sua vez,
só poderia se realizar com a colaboração da população o que obrigava todos a se engajarem na luta pela manutenção da Maat.


4.3 – A Expansão Territorial e a Formação do Exército:

Tão logo o Egito estava consolidado, a intenção dos Faraós se voltou para os territórios além Nilo, ou seja, para a Núbia (que, apesar de se localizar também às margens do Nilo, ao sul, talvez pela etnia, talvez pelas cataratas que constituíam barreiras naturais à expansão humana, não fazia parte do Egito), para a Líbia, para o Sinai e para os povos dos oásis.

O Egito havia alcançado um nível de organização político incomparável com qualquer civilização da mesma época, no entanto, seus exércitos ainda eram organizados da mesma forma primitiva que aqueles dos antigos Spat.

Homens que trabalhavam no campo e que não dispunham de qualquer treinamento militar eram periodicamente convocados pelos líderes regionais (sobre a organização política do Egito discorrerei um pouco mais adiante) para integrar o exército nacional. Recebiam lanças, fundas, clavas e manguais, às vezes recebiam certos tipos de capacetes e escudos e partiam, divididos em pelotões de infantaria apenas, para marchas de conquista.

É certo que a organização do Estado Egípcio, bem como a agricultura de irrigação, permitiam que o contingente populacional fosse bem grande, o que tornava praticamente impossível aos agredidos resistir por muito tempo aos assaltos Egípcios. Porém, perdas constantes de homens que constituíam força de trabalho tanto privada quanto pública (no período da Inundação) poderiam enfraquecer o poder do Egito.

Não é comprovado, mas especula-se que desde os tempos mais remotos o Faraó sempre fora o comandante militar supremo do Egito, sendo assim (coisa que não é de se admirar, uma vez que eram os descendentes dos antigos Reis-Heróis glorificados no combate), sua presença necessariamente inspirava os guerreiros que, afinal de contas, estavam combatendo lado a lado com um Semi-Deus.

Os contatos comerciais com a Fenícia foram alguns dos primeiros movimentos internacionais realizados pelo Egito centralizado, talvez até os Monarcas do Proto Dinástico já os tivessem iniciado e era através desses contatos que o Egito obtinha o cedro tão necessário para a navegação.


Os primeiros esforços militares de expansão devem ter sido em direção à Núbia, afinal, sabia-se que lá havia muitas minas de ouro. A região que não era tão bem organizada (na realidade não se sabe quase nada sobre a organização política da Núbia (atual Sudão) numa época tão recuada) foi facilmente submetida e nela foram instalados colonos mineiros. Além da instalação de Egípcios na Núbia, é muito provável que tenha havido um certo intercâmbio populacional, já que produtos da Núbia eram bem vistos no Egito e que, dentro de pouco tempo, passa-se a ver mercenários Núbios agindo como guardas pessoais do Faraó.

O domínio da Núbia consistia em se vencer as cataratas do Nilo e, sendo assim, no Antigo Império, ele não passou da região entre a primeira e a segunda cataratas.

Tomadas as minas da Núbia, o próximo passo era marchar rumo ao Sinai, a península que divide a África e a Ásia, localizada ao norte do mar Vermelho. No Sinai existiam grandes quantidades de cobre e este material era indispensável para a evolução militar do Egito, além de turquesas, pedras muito apreciadas pelos Egípcios (acredita-se que as primeiras expedições ao Sinai com o objetivo de obter turquesas tenham ocorrido ainda na I Dinastia, sob a liderança dos Faraós Djet e Den). Com o cobre extraído no Sinai foram confeccionadas novas armas, mais eficientes que as de madeira, sílex e pedra utilizadas até então e, a partir desse domínio, o fôlego militar do país dos Faraós aumentou.

Com o domínio do Sinai, estabeleceram-se portos no mar Vermelho e, a partir deles, foram lançadas expedições marítimas ao lendário Punt (país ou região mais comumente associada à atual Somália), de onde foram trazidas diversas raridades, inclusive girafas.

O próximo rumo dos exércitos seria os oásis, ou seja, seria a pacificação das populações nômades e semi-nômades que, por sua própria existência, comprometiam a Maat, visto que não pode haver Ordem num mundo de Caos e incerteza como o dos nômades e o que era pior, esse indivíduos habitavam as proximidades do Nilo e, vez por outra, atacavam populações de vilas menores em busca de saques e de animais domesticados. Isso precisava parar e os Faraós se dedicaram a faze-lo.

No caminho natural da expansão o Egito atingiu a Líbia, região que, devido à proximidade com o Delta e à característica nômade de sua população atacava freqüentemente o Egito, e de lá trouxe mais produtos inusitados e mais mercenários para servirem nos palácios do Faraó, bem como escravos (o Faraó Snefru, da IV Dinastia, aprisionou mais de sete mil Núbios e onze mil Líbios em duas campanhas distintas).

Por volta do início da VI Dinastia, os primeiros contatos comerciais entre Egito e Creta são relatados por fontes Minóicas (Cretenses), o que comprova que os Egípcios já haviam conseguido dominar a navegação marítima com certa tranqüilidade, a ponto de arriscarem precisos navios em comércio com Creta.

Com efeito, a expansão do antigo Império não foi um fenômeno rápido como a narrativa linear faz parecer, ela perdurou por mais de 400 anos sendo interrompida em determinados períodos e intensificada em outros. Porém, mais do que formar um grande Império, coisa que ela não foi apta a fazer (uma vez que apenas conseguiu pacificar parcialmente os povos nômades do deserto, e estabelecer colônias mineradoras no Sinai e no norte da Núbia a região mais tarde conhecida como País de Kush), essa expansão foi uma das responsáveis pela consolidação do ideal de nação Egípcia, na medida em que fez com que povos das mais variadas regiões lutassem juntos num só exército, além de por o Egito em contato com povos estrangeiros, coisa que, em escala tão grande, nunca tinha acontecido até então.

Como efeito secundário da expansão podemos notar a formação de uma espécie de guarda nacional de mercenários, responsável pela defesa do Egito e não pela conquista de territórios e uma melhora significativa na capacidade bélica dos exércitos com a introdução gradual de novas armas (primeiro os escudos, depois os capacetes e, por fim, as armas de cobre). No final do Antigo Império surge o kopesh, uma arma que viria a ser uma marca registrada da região do Egito por muitos e muitos anos, até mesmo os soldados de Napoleão Bonaparte tiveram que enfrentar guerreiros Mamelucos do Egito que, montados em camelos, empunhavam cimitarras, aperfeiçoamentos do antigo kopesh Egípcio inventado no final do Antigo Império.


4.4 – O Faraó, a Política e Poder no Egito:

Mencionei anteriormente que o Egito era dividido em Spat, ou Nomos, mencionei também que estes eram espécies de conglomerados de vilas próximas ligadas a uma espécie de vila-mãe e que eram aproximadamente 40 distribuídos ao longo de toda a extensão do Nilo.

Pois bem, a partir desses Spat, como já foi mencionado, se processou a unificação gradual do Egito que culminou na criação de dois Reinos que posteriormente foram unificados em um só por Narmer e seus sucessores.

A questão que nos resta é justamente como se processava a divisão política dentro do Egito depois de sua unificação, visto que, como já expliquei, antes dela havia Assembléias Populares (Zazat) e Conselhos de Anciãos (Saru), que foram gradualmente substituídos por autoridades Reais obtidas em batalhas.

Continuando uma evolução lógica da polícia Egípcia, percebe-se que através de alianças e/ou combates os antigos Reis-Heróis foram unindo os Spat sobre sua autoridade e essa união resultou no Egito, mas não podemos deixar de ter em mente que não é porque um povo é conquistado por outro e passa a ser por ele dominado que todas as suas particularidades culturais desaparecem. É certo, no entanto, que um domínio muito prolongado pode impor certos traços culturais do dominador, como, por exemplo, a língua (o que explicaria que apenas um idioma (o Egípcio) se espalhasse por todo o Egito). Após a unificação de alguns Spat, o Rei do Spat que se encontrava em situação de preponderância era intitulado Rei e os demais, governadores de províncias, essa situação permaneceu mesmo após a unificação de todo o Egito, sendo assim, esse antigos Reis passavam agora a ser espécies de governadores que, neste texto, seguindo o termo Grego, serão chamados de Nomarcas.

Cada Nomarca era, com efeito, uma espécie de Rei em seu Spat. Vivia em uma cidade central e controlava-a, bem como às diversas vilas que constituíam seu domínio. Havia um resquício do antigo Saru, ou seja, uma espécie de Conselho dos cidadãos mais importantes de cada uma das vilas que assistia o Nomarca no governo da província. O Zazat nunca deixou de existir, mas, é muito provável que se algum dia tivesse realmente tido algum tipo de poder de voto, no Egito unificado tenha sido reduzido apenas a uma reunião pública onde os membros do Saru comunicavam as decisões do Nomarca e/ou do Faraó.

É óbvio que um sistema burocrático tão descentralizado e, ao mesmo tempo tão centralizado (descentralizado do ponto de vista em que existiam diversas instancias de poder público e centralizado no sentido em que algumas dessas instâncias eram de fato detentoras de muito poder sobre as regiões às quais lhe cabia mandar) não poderia existir se não contasse com muitos oficiais régios. Estes oficiais, bem como os próprios governantes das mais variadas instâncias tinham de ser necessariamente letrados, sendo assim, os oficiais redigiam documentos ditados por seus superiores e eram encarregados de leva-los a quem fosse devido e de, no caso de avisos à população, lê-los em público. Estes oficiais são popularmente conhecidos como Escribas e trabalhavam na só no governo, mas também nos mais variados templos.


4.4.1 – O Alto e o Baixo Egito:

Como originalmente o Egito havia sido unificado em dois Reinos e como ele nunca deixou de se reconhecer oficialmente como a união de dois Reinos sob um único governante, nada mais natural que houvesse um governante no Alto Egito e um no Baixo Egito, ambos imediatamente abaixo do Faraó. Este cargo realmente existia era conhecido como Tjati (muitos livros referem-se a este cargo com o título de Vizir, o que é um erro, uma vez que tal título é de origem Turca e só seria implantado por volta do século XII d.C., quando os Seldjúcidas se tornariam Vizires dos Califas Abássidas de Bagdad), uma espécie de Primeiro Ministro.

Na realidade, o Tjati era o supremo chefe político do país e habitava em uma grande cidade do Reino, usualmente Hierakonpolis no Alto Egito ou Buto no Baixo Egito.

As atribuições dos Tjati eram as mais variadas possíveis, desde servirem como supremas cortes judiciais no caso de o julgamento dos Nomarcas não ser considerado adequado em algum caso, até ordens administrativas de menor importância relacionadas ao Reino. Com efeito, a própria existência do Tjati visava reduzir um pouco a já atribulada agenda do Faraó. Em tempos futuros, na época do Novo Império, passará a haver dois Tjati, um no Alto Egito que viria a viver em Tebas e um no Baixo Egito em Hiliópolis, sendo que, dependendo de onde o Faraó optasse por morar, ele poderia vir a ser controlado por um de seus Tjati. Este era o cargo de maior prestígio que poderia ser ocupado por alguém de origem popular, desde que, é claro, fizesse por merecer uma indicação do Faraó.

Ser Tjati implicou, como veremos, em várias épocas, em mandar no Egito inteiro sem que seu nome fosse conhecido por muitos, uma verdadeira “Eminência Parda”.


4.4.2 – A Agenda do Faraó:

O Faraó era o único verdadeiro Sacerdote de todo o Egito, além de ser o chefe supremo dos exércitos e da política. Apesar de ser considerado um Semi-Deus, o Faraó era apenas humano e, como tal, jamais daria conta de exercer todas essas obrigações sozinho, sendo assim, utilizava-se de auxiliares.

No caso da política, esse auxiliar era o Tjati, no caso dos exércitos, os Generais e no caso das funções religiosas eram os Sacerdotes.

Dependendo das características pessoais do Faraó ele poderia optar por ser aproximar mais de uma ou de outra função. Portanto, houve Faraós que se empenhavam muito e pessoalmente em campanhas militares, outros que viajavam o Egito inteiro freqüentemente para fazer cerimônias religiosas nos mais diversos templos da nação e outros que preferiam se ocupar de ordens políticas, como construções e recrutamentos para trabalhos diversos.

Estando presente o Faraó, era ele quem realizava o culto ao deus do templo, fosse este qual fosse, afinal, o Faraó era um Deus em essência, apesar de ser um homem na forma, o que lhe fornecia a atribuição de cultuar os seus iguais.

Como Sacerdotes, os Faraós podiam entrar nas câmaras escuras onde residiam os Deuses representados por suas estátuas, podiam vê-las, unta-las e vesti-las, podiam dar-lhes de comer e orar a elas. Em sua falta, quem fazia estas tarefas eram os Sacerdotes, os homens indicados pelo Faraó, ou em nome dele, para realizar funções sacras. O mais interessante sobre os Sacerdotes é que eles eram funcionários do Estado e não necessariamente fiéis do Deus que eram incumbidos de cultuar. Ocorriam muitas vezes de Sacerdotes devotos de um Deus serem nomeados para o culto de um outro, o que não influenciava na qualidade do serviço do indivíduo, visto que fazia parte de suas obrigações para com a manutenção da Maat prezar pelo cuidado com as estátuas dos Deuses.

De uma maneira um tanto aproximada, os Deuses originais de cada Spat continuaram sendo os Deuses principais daquelas comunidades para sempre, porém, a fama de alguns Deuses fazia deles campeões da fé nacional (como veremos mais adiante). O que é mais interessante é que aquelas entidades originalmente zoomórficas, com a deificação do Faraó (um humano), foram adquirindo formas intermediárias entre animais e homens, sendo assim, começam a surgir Deuse antropomórficos e ainda antropozoomórficos.


4.4.3 – A Sucessão Real:

Talvez por causa da atitude de Narmer de ter desposado uma princesa do norte, talvez por algum costume Neolítico mais obscuro, talvez por alguma tentativa de apaziguamento das populações do Baixo Egito perpetrada pelos Monarcas do Proto Dinástico, ninguém sabe ao certo, mas o fato é que a fórmula de sucessão ao trono desde os primórdios do Antigo Império seguiu praticamente inalterada até o final do Novo Império, sendo que alguns Faraós posteriores vieram a adota-la novamente como forma de legitimação de seus poderes.

A fórmula não era tão simples quanto a tradicional primogenitura masculina Européia, ou seja, a forma de sucessão onde o mais velho filho homem do Monarca será o próximo governante. Entre os Egípcios, a sucessão Real era transmitida pelas mulheres, se bem que elas não pudessem legalmente ocupar o trono (ainda que em determinadas ocasiões o tenham feito).

Para começar a exposição, precisamos explicar que apesar de a monogamia ser a regra na sociedade Egípcia, o Faraó, e apenas ele, estava livre para se casar com quantas mulheres quisesse. As mulheres do Faraó eram distribuídas em três categorias de importância: Concubinas, Esposas Secundárias e a Grande Mulher do Rei.

Qualquer mulher que o Faraó desejasse, desde simples criadas, até uma camponesa, passando por escravas e até mesmo estrangeiras poderia ser uma Concubina. Essas esposas terciárias habitavam o harém do Faraó e eram verdadeiras escravas sexuais do Semi-Deus. Estavam sempre bem limpas e cuidadas estando à disposição do Faraó para saciar seus impulsos sexuais. Seus filhos muitas vezes se tornavam Oficiais, Escribas, Sacerdotes e Sacerdotisas, além de possíveis esposas (no caso de filhas) de Sacerdotes e dignatários de importância intermediária.

Princesas estrangeiras, filhas de grandes Sacerdotes e dignatários, esposas do Faraó morto, dentre outras mulheres de grande ou relativa importância poderiam vir a se tornar Esposas Secundárias do Faraó. De fato, os Faraós utilizavam este tipo de casamento como política de alianças e como chances de diversificação das chances de possuírem um filho homem. Porém, não devia haver muitas Esposas Secundárias, talvez um número aproximado de dez apenas. Filhas dessas mulheres estavam destinadas a se casarem com seus irmãos, com altos funcionários, como o Tjati, com Reis estrangeiros ou ainda a se tornarem Sacerdotisas de grandes templos do Egito. Os Filhos dessas Esposas Secundárias do Faraó poderiam vir a se tornar os novos Faraós, ou ainda altos Sacerdotes, Generais, chefes de colônias mineradoras estrangeiras (como no Sinai e na Núbia) e, mais tarde, Vice-Reis de importantes regiões submetidas.

A Grande Mulher do Rei era apenas uma, muitos autores se referem a ela como sendo a Rainha do Egito, mas isso é um erro, pois o seu título não a nomeava dessa forma. Sua procedência é controversa, sabe-se, no entanto, que Faraós poderosos como Amenófis III casaram-se com mulheres de origens não dignas e elevaram-nas à condição de sua Grande Mulher. Acredita-se que originalmente a Grande Esposa do rei devesse ser necessariamente uma princesa do Baixo Egito, sendo assim, ela poderia ser de linhagem estrangeira (descendente dos Acadianos), ao menos no Antigo Império. Caso ela tivesse filhos homens, uma deles (usualmente o mais velho) seria o novo Faraó, no entanto, caso ela só viesse a ter filhas, o indivíduo que viesse a desposar a mais velha delas seria o novo Faraó.

Por essa razão os Faraós costumavam preparar seus escolhidos como sucessores (usualmente um filho de uma de suas Esposas Secundárias) para estarem aptos a ocupar o cargo quando chegasse a hora e entre essas preparações constava o casamento do herdeiro com a filha mais velha do Faraó com sua Grande Mulher. Essas precauções eram tomadas para que no momento de perturbação de Maat advindo da morte do Faraó, nenhum oportunista forçasse seu casamento com uma das princesas e, dessa forma, se tornasse o novo Faraó.

Caso a Grande Mulher do Rei não tivesse nenhum filho, o novo Faraó seria aquele que com ela se casasse após a morte de seu marido. Com efeito, no Egito Antigo eram as mulheres que portavam o poder Real e os desígnios da Maat faziam com que um determinado indivíduo se casasse com elas e, dessa forma se mostrasse como sendo o eleito dos Deuses para ser o novo Faraó, para ser o Deus Vivo do Egito.

Mas se as mulheres transmitiam o poder Real, como as Dinastias mudavam?

Bem, Dinastias podiam mudar de várias maneiras, ataques, golpes de Estado... Porém, o modo mais usual era quando o Faraó morria sem deixar filhos homens, sendo assim um indivíduo que não pertencia à linhagem Real desposava a filha mais velha da Grande Mulher do Rei e se tornava Faraó. É bom, no entanto, que se tenha em mente que quem dividiu a História do Egito em XXXI Dinastias foi Mâneton, sendo assim é muito pouco provável que os Egípcios tivessem essa noção de continuidade e descontinuidade de governantes, só o que sabiam era que seu Semi-Deus os estava governando.


4.4.4 – Os Símbolos do Poder Faraônico:

Como já mencionei no item sobre o Escorpião-Rei, os principais símbolos de poder do Egito eram as duas coroas: a branca do Alto Egito e a vermelha do Baixo Egito. No entanto, não eram esses os únicos símbolos de poder daquela civilização que se encontravam nas mãos do Faraó.

A coroa branca e a coroa vermelha eram os mais antigos símbolos de poder do Egito tendo sido estabelecidas na época do Período Pré-Dinástico. Talvez fossem os símbolos de poder dos Spat que unificaram respectivamente o Alto e o Baixo Egito. Quando da unificação nacional, ambas caíram nas mãos de um só indivíduo e, ao invés de serem substituídas por uma terceira coroa, foram brilhantemente fundidas numa só, aliás, as duas coroas se encaixavam perfeitamente fazendo uma terceira coroa.

As influências semíticas nas tradições Egípcias são muito visíveis, por exemplo, um dos principais símbolos de poder dos Faraós era uma longa barba falsa presa a seu queixo, um símbolo de sabedoria e, por conseguinte, poder oriundo das tradições semitas.

Como o Faraó era ao mesmo tempo um bom pastor que guiava seu povo segundo os desígnios da Maat e um Deus punidor capaz de castigar quaisquer indivíduos que fossem merecedores de tal punição, ele utilizava em uma das mãos um cajado de ponta curva, como aqueles utilizados pelos pastores de ovelhas; e na outra mão um mangual como o utilizado pelos guerreiros nos campos de batalha para massacrar seus inimigos.

Com a expansão militar do Egito ao longo do Antigo Império e a participação do Faraó em campanhas militares, ele precisaria de um capacete que o protegesse de possíveis ataques nos combates, mas que também demonstrasse perante seus súditos que ele era o Faraó. Este capacete foi criado por volta do final da II Dinastia e concentrava em si o poder militar de todo o Egito. Ele era azul com listras douradas, talvez de ouro, além de possuir fitas de linho presas em sua parte posterior.

Outro símbolo de poder era o rabo de touro que o Faraó utilizava atado à sua cinta em ocasiões especiais, os especialistas ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre a função simbólica deste ícone, mas, possivelmente ele está relacionado à característica de pastor (condutor) que o Faraó possuía, algo semelhante ao cajado de pastor por ele portado.

Talvez o mais conhecido símbolo do poder Faraônico eram toucas de linho rijo com fios de ouro, normalmente vermelhas ou azuis que o Faraó utilizava sobre a cabeça quando estava em seu palácio, visto que ele nunca era visto em público com a cabeça descoberta (por razões que serão explicadas mais adiante neste mesmo sub-item).

Por fim, o Faraó possuía dois Nems, espécie de coroa que ele utilizava sobre a cabeça. Uma delas possuía as insígnias do Baixo Egito (duas enormes penas erguidas) e a outra possuía as insígnias do Alto Egito (um chifre de carneiro encerrando um disco solar).

Salvo pela exceção das coroas do Baixo Egito e Alto Egito e da coroa militar, todos os demais pertences podiam ser sepultados junto com o Faraó. Porém, as três coroas, por representarem o Egito, deveriam permanecer na atividade sendo transferidas de Faraó para Faraó. É possível que só tenha havido um único exemplar de cada uma delas ao longo de toda a História Egípcia, no entanto, nenhuma delas jamais foi encontrada.

Em todas as coberturas de cabeça utilizadas pelo Faraó havia uma serpente pendendo sobre a testa do Monarca. Acreditava-se que caso alguém se aproximasse muito dele sem ser convidado a serpente o fulminaria com um fogo venenoso. Além disso, qualquer um que tocasse ou fosse tocado pelo Faraó morreria instantaneamente por ter tocado o próprio Sol. A única maneira de evitar a morte numa ocasião dessas era obter o perdão do Faraó. Apenas em ocasiões muito especiais o Faraó permitia que indivíduos ilustríssimos se prostrassem perante ele e beijassem seus pés.

Havia Sacerdotes especialmente designados para manter as pessoas longe do Faraó, esses Sacerdotes, devido à proximidade que mantinham com o governante do Egito, precisavam se purificar constantemente com banhos para evitar sua própria ruína.


4.5 – Razões para a Desintegração do Antigo Império:

Ao longo de quatro Dinastias o Egito cresceu, se expandiu e dominou outras regiões. O comércio com países distantes como Punt, Fenícia e Creta trouxe artigos nunca antes vistos no Vale do Nilo, além de mercenários e escravos das mais diversas etnias. A introdução do cobre inseriu o Egito, ainda que tardiamente, na Idade dos Metais e o poder dos Faraós só fez crescer, sendo que a IV Dinastia foi seu período de maior esplendor em todos os tempos.

Dentro de um contexto de tanta pujança é difícil pensar que o Egito pudesse entrar em decadência. Muitos Historiadores têm se questionado sobre a razão que teria feito com que o Antigo Império se desagregasse. Porém, dada a distância no tempo em que se encontram os fatos é muito difícil precisar alguma coisa. Em termos gerais, três grandes teorias se mostram as menos imperfeitas acerca de tal desintegração. Vejamos as três:

Segundo alguns estudiosos, a razão para a bancarrota do Antigo Império teria sido o longo governo de Pepi II (Neferkará Phiops II), que, segundo alguns, teria durado mais de 90 anos. Para estes pesquisadores, o fato de um Faraó governar tanto tempo teria comprometido a política militar, uma vez que para eles apenas o Faraó poderia liderar expedições punitivas e conquistadoras, sendo assim, devido ao grande período de senilidade pelo qual teria passado Pepi II, essas expedições teriam deixado de ocorrer o que teria ocasionado a perda das colônias da Núbia e do Sinai, bem como um fortalecimento demasiado dos Líbios, dessa maneira, quando o Faraó morreu, seu sucessor não teria sido forte o suficiente para combater as investidas Líbias e o Antigo Império teria entrado em colapso. Para agravar a situação, Pepi II teria vivido mais do que seus filhos e esposas, sendo assim, teria morrido sem deixar herdeiros legais, o que acarretou numa mudança de Dinastia e, por
conseguinte, na ascensão de um Monarca sem legitimidade ou ainda, quiçá, no início de disputas Dinásticas que teriam corroído o Reino de dentro para fora.

Essa teoria pode ser convincente, mas há nelas alguns problemas, por exemplo, um dos mais fortes indícios para se crer que Pepi II viveu tanto são as listas de Mâneton (que já foram mencionadas), no entanto, como já foi dito, no que se refere às seis Dinastias do Antigo Império, Mâneton prolonga em demasia os governos de modo a conseguir fazer com que a História do Egito remonte ao século XCV a.C., ao invés do século XXXI a.C, como se pensa hoje. Outro motivo é que se alega que uma estela datada do governo de Pepi II confirmaria o longo governo daquele Faraó, no entanto, se analisarmos a própria História do Egito, veremos que no Novo Império, o Faraó Horemheb (último governante da XVIII Dinastia) fez com que os nomes de seus quatro predecessores (Aye, Tutankhamon, Smenkhare e Akhenaton) fossem riscados do mapa, dessa forma, seu primeiro ano de governo foi legalmente seu trigésimo. Caso este Faraó tivesse governado por trinta anos mais, teríamos um governo de
sessenta anos. É claro que no caso de Horemheb, sua farsa foi descoberta pelos Egiptólogos, porém, ele Reinou quase mil anos depois de Pepi II, sendo assim, muito mais vestígios nos restam dos tempos de seu governo. É muito possível e provável que Pepi II, seja por que motivo for (no caso de Horemheb, como veremos, foi pra apagar da História o Período de Amarna, comandado por Akhenaton), tenha querido alongar seu tempo de governo e, sendo assim, talvez tenha mandado suprimir da História o governo de um ou mais Faraós ganhando vários anos para seu governo e conseqüente glória. Dou essas afirmações como certas pelo fato de a expectativa de vida média dos habitantes do Egito Antigo não ser superior a 45 anos. É verdade que as condições de vida do Faraó eram as melhores possíveis, mas também é verdade que mais do que dobrar a expectativa de vida média de uma população é algo muito difícil, para se ter uma idéia, um brasileiro que conseguisse a proeza de Pepi II teria que viver
ao menos 150 anos. Como disse uma vez ao jornalista Roberto Navarro da Revista Super Interessante, em entrevista; acredito que seja pouquíssimo provável, senão impossível, que Pepi II tenha vivido tanto, sou muito mais propenso a pensar que seus infindáveis anos de governo se tratem de uma fraude Histórica ainda não descoberta.

Agora que já desmistifiquei o longo governo de Pepi II, resta-me a árdua tarefa de explicar porque então o Antigo Império entrou em desintegração e acabou ruindo tão rapidamente.

Antes de começar a expor minhas teorias, gostaria de dizer que elas não são minhas, mas apenas duas das teorias a que tive acesso em minha pesquisa. Não as considero perfeitas, mas, tão somente, as melhores dentre as que pude ler.

Alguns pesquisadores, apoiados em dados climáticos passados (não me perguntem como tais cálculos são feitos, não entendo nada de astronomia, geologia e coisas do gênero) chegaram à conclusão de que houve um período de leve resfriamento no centro da África por volta do final do século XXIII e início do XXII a.C.. Este resfriamento não foi significativo a ponto de se tornar perceptível para as populações que habitavam as margens do Nilo, no entanto, foi o suficiente para reduzir o fator de degelo das montanhas onde nasce aquele que é tido como o mais extenso rio do mundo. Graças a esse degelo diminuto, as cheias de vários anos a fio não foram suficientes para sustentar a agricultura necessária para a manutenção do Egito e, sendo assim, uma crise iniciou-se.

Com os armazéns vazios, o Faraó não teve escolha senão suspender o envio de comida para as colônias mineiras do Sinai e da Núbia, além disso, expedições militares se tornavam inviáveis, por demandarem provisões em estoque. Sem comida e sem ouro, o comércio internacional também naufragou e, dessa forma, o Egito começou a regredir.

Naturalmente, esses desequilíbrios climáticos provocaram o caos e foram vistos como um forte abalo na Maat, sendo assim, o poder do Faraó começou a ser contestado. Aliado a isso, talvez esteja o fato de Pepi II ter vivido muito (não os quase cem anos que lhe são atribuídos, mas ainda assim, muito), o que pode tê-lo deixado sem herdeiros, sendo assim, quando este veio a falecer, uma luta sucessória pode ter sido desencadeada (como falaremos mais adiante) essa luta aliada às invasões do Delta pelos Líbios que já não eram combatidos em suas terras, fez com que o poder dos Nomarcas voltasse a crescer e, sendo assim, os Spat voltaram a ser independentes na prática e cada Nomarca voltou a ser uma espécie de pequeno Rei.

A outra teoria, a que considero a melhor e, portanto, a que deixei por último, não associa a derrocada do Antigo Império a um rápido período ocorrido na VI Dinastia, mas sim, a um longo processo Histórico iniciado na gloriosa IV Dinastia. Segundo essa teoria, os Monarcas da IV Dinastia, por se sentirem tão divinos quanto a população julgava que fossem, teriam desenvolvido práticas protecionistas em relação a família Real. Dessa forma, todos os cargos públicos importantes passaram a ser ocupados por pessoas dessa família, talvez para evitar, como havia ocorrido na III Dinastia, que um indivíduo de origens populares como Imhotep (do qual falaremos mais adiante) ascendesse a cargos que lhe proporcionassem uma futura deificação.

Talvez como forma de garantir que sua família fosse perpetuada na condição de grande soberana do Egito para todo o sempre; os Faraós da IV Dinastia desenvolveram uma revolução religiosa (que será pormenorizada no item específico). Essa revolução consistiu basicamente em intensificar o culto a uma divindade antiga: Ra, de Heliópolis.

Ra, o Deus Pássaro, era tido como pai de Hórus (se bem que como veremos, este Deus também era filho de Osíris), o Deus Falcão da Realeza e, sendo assim, seu clero passou a ser imposto como o principal clero do Egito, coisa que até então nunca havia acontecido. O acesso ao clero de Ra só era permitido aos membros da família Real e, sendo assim, por esse subterfúgio, eles podiam permanecer no controle de todos os aspectos da sociedade, com seus pares legitimando suas ações.

No entanto, o que inicialmente pareceu uma boa idéia, logo se mostrou ruim, visto que a procedência Real dos Sacerdotes de Ra fazia com que suas reivindicações possuíssem muito mais legitimidade do que a de quaisquer outros indivíduos, sendo assim, o Faraó passou a doar terras para o clero de Ra, o que fez com que ele se tornasse extremamente poderoso.

Com o fim da IV Dinastia e a ascensão da V, o clero de Ra continuou dominado pelos descendentes da antiga Dinastia Reinante e, sendo assim, como já não viam seus parentes sentados no trono de Mênfis, começaram a utilizar seus poderes políticos (advindos das terras dos templos que lhes haviam sido doadas pelos Faraós da IV Dinastia) e sua força religiosa para pressionar o poder central. Em pouco tempo, o Faraó, que antes era o Hórus vivo, ou seja, um Deus, passou a ser visto como o filho de Ra, ou seja, o filho de um Deus, o que diminuiu seu status. Isso explicaria o fato de na V Dinastia a construção de pirâmides ter declinado (com a diminuição do tamanho e da importância devotadas a essas construções) e a construções de templos e obeliscos (estes eram os tronos de Ra na Terra, onde ele se sentava todas as manhãs, com o nascer do Sol) a Ra ter se intensificado.

Visando consertar essa situação, os Faraós da VI Dinastias passaram a favorecer os Nomarcas, visando adquirir uma forte base de sustentação política que lhes permitisse suplantar o poder do clero de Ra. Porém, essa tentativa teria sido o último erro dos Monarcas do Antigo Império, uma vez que os recursos destinados a financiar a expansão eram agora doados aos Nomarcas. Estes, por sua vez, ao invés de garantir sustentação política ao Faraó, se fizeram, aos poucos, pequenos Reis em seus próprios Spat, alguns, se fazendo adorar entre seus subalternos, como verdadeiros Deuses. O Faraó viu seu poder ruir e aí talvez entre o longo governo de Pepi II, que, por ter visto o Faraó morrer sem deixar herdeiros legítimos, teria precipitado uma crise que já se arrastava lentamente desde o período de maior poder dos Faraós do Antigo Império.




4.6 – Práticas Funerárias do Antigo Império:

Durante todo o Antigo Império a capital do Egito foi a cidade de Mênfis e, em suas proximidades existe uma região conhecida como Sakkara. Nesta região, desde os primórdios da I Dinastia, os Faraós eram enterrados em suas mastabas (como já foi mencionado). Sakkara acabou por se transformar numa espécie de Necrópole, a primeira do Egito Antigo.


Com o tempo os Faraós construíam suas mastabas e, ao seu redor, mastabas menores eram erigidas para seus asseclas mais próximos.


Não se sabe ao certo com que intuito (se bem que isso será discutido mais adiante), mas provavelmente com o de demonstrar sua grandeza, o segundo Faraó da III Dinastia: Djeser (de quem já fiz alguns comentários), incumbiu seu Arquiteto Real de construir um túmulo piramidal.




Ao contrário do que se pensa, os Egípcios não eram grandes matemáticos (ao menos não até Euclides, no século IV a.C., mas mesmo este não era Egípcio, mas Grego radicado em Alexandria), sendo assim, suas obras arquitetônicas monumentais se tornam ainda mais maravilhosas.



Pirâmide de Imhotep
A pirâmide de Djeser, por exemplo, foi construída por Imhotep (sim este é o indivíduo que inspirou o filme “A Múmia”, se bem que seu comportamento e sua história nada tenham em comum com os do personagem monstruoso do cinema hollywoodiano) à partir de cálculos simples apoiados por tentativas. Esta pirâmide, também chamada de pirâmide de mastabas foi a primeira do Egito e consistiu basicamente de uma pilha de cinco mastabas em tamanho decrescente.


Estátua de Imhotep



O Imhotep do cinema ("A Múmia")
A fama alcançada por Imhotep devido à construção da pirâmide foi tamanha que ele se tornou popularmente conhecido como o homem mais sábio do Egito, sendo considerado um grande arquiteto, médico e mágico. Quando faleceu, passou a ser cultuado como Deus da Cura, tendo seu culto resistido até o Período Ptolomaico. Ele foi realmente o criador da medicina Egípcia, além de ser o inventor dos tetos sustentados por colunadas, técnica que depois seria exportada do Egito para a Grécia e se tornaria a principal marca arquitetônica daquela civilização.




A Necrópole de Sakkara logo começou a ser povoada por pirâmides sendo que dentro em breve o modelo escalonado (ou de mastabas) criado por Imhotep foi ultrapassado. Ao redor das pirâmides continuavam a se amontoar as mastabas dos dignatários ligados ao Faraó e a maior honra que alguém poderia receber (em geral concedida a Nomarcas que houvessem prestado serviços relevantes) era a concessão de uma mastaba ao lado da pirâmide Faraônica.

A idéia de culto ao Faraó ganhou mais força ao longo da III Dinastia chegando ao seu ápice durante a IV. Nesta época, quando um Faraó morria, seu corpo era sepultado em Sakkara, mas uma estátua sua era erigida em Abidos onde ele seria cultuado para todo o sempre.









4.6.1 – As Glórias da IV Dinastia:

Sem exageros a IV Dinastia pode ser considerada como sendo aquela em que o poder dos Faraós mais foi grande, além disso, também é a Dinastia que construiu as obras mais impressionantes da História Egípcia.




A Dinastia se inicia com Snefru chegando ao trono por se casar com a filha do Faraó Huni (último governante da III Dinastia que morreu sem deixar filhos homens). Em seu governo, Snefru construiu nada menos do que três pirâmides. Na verdade, concluiu a pirâmide deixada incompleta por seu sogro e construiu mais duas: a Pedra do Sul (a famosa pirâmide inclinada) e a Pedra do Norte (a primeira pirâmide no estilo tradicionalmente conhecido), ambas em Dahshur.




A Pedra do Norte era a maior pirâmide construída até então e foi a primeira a se parecer com aquilo que nós hoje entendemos por pirâmides. Isso porque Snefru teve a idéia de mandar preencher os degraus externos de sua pirâmide para dar a ela um visual mais suave e retilíneo (de acordo com a Maat, como ela se expressa na arte Egípcia).




O filho de Snefru, Khufu (mais conhecido como Quéops) levou a construção de pirâmides ao auge de seu esplendor. Sua pirâmide (construída no planalto de Gizé) levou mais de vinte anos de trabalho de cerca de cem mil homens para ficar pronta, mas é a maior maravilha do Egito Antigo tendo consumido mais de 2,3 milhões de blocos de pedra (para se ter uma idéia do volume de tal pirâmide, basta saber que se ela fosse transformada em cascalhos, seria possível construir com esse produto uma estrada de duas pistas e trinta centímetros de espessura que saísse Monte Caburaí (na Amazônia) e fosse até o Arroio Chuí (no Rio Grande do Sul), ou seja, que cortaria o Brasil inteiro). E não é só, a pirâmide era recoberta por uma cobertura calcária de Tudra que brilhava ao sol e sobre tal cobertura estavam gravados milhares de hieróglifos (hoje já não existem tais inscrições que foram destruídas e/ou roubadas por Cristãos, Muçulmanos e pretensos magos ao longo dos séculos, no entanto, no
século XII d.C., o escritor Árabe Abd el Latif escreveu que os hieróglifos que ainda recobriam a pirâmide seriam suficientes para preencher mais de dez mil páginas de livros). O que estava escrito na Grande Pirâmide de Quéops? Nunca saberemos...




A pirâmide de Quéops




Agora imaginemos como deve ser difícil construir algo de tamanhas proporções sobre as instáveis areis do deserto. Bem, agora que já pensamos nisso e uma vez que já sabemos que os Egípcios não eram exímios matemáticos, como explicar que a Grande Pirâmide esteja situada sobre um chão cuja margem de erro em relação à horizontalidade perfeita é de apenas 0,004%?




Agora vejamos, será mesmo que é possível conceber a construção de edifícios tão complexos quanto as Grandes Pirâmides num tempo tão recuado e com uma matemática tão pouco avançada? Bem, para muito isso não parece razoável e é justamente daí que surgem teorias como as de Erich von Däniken, que atribuem construções como as Pirâmides a seres extra-terrestres, ou ainda teorias como as que falam sobre Atlântida e outras civilizações perdidas muito mais antigas do que as mais antigas civilizações de que se tem notícias e que de tão avançadas teriam inspirado toda a evolução subseqüente do mundo.

Esquema de um corte lateral na Pirâmide de Quéops, com seus caminhos internos e câmaras mortuárias secretas


Essas teorias são, em sua grande maioria, completamente infundadas, mas não resta dúvida que existem muitas passagens obscuras na História da Humanidade, ainda mais se levarmos em conta que toda a História posterior à Antigüidade conta apenas pouco mais de um quarto da duração de tempo que aquele período teve sozinho, ou seja, tempo para que coisas acontecessem e fossem esquecidas houve, especialmente se levarmos em conta que não havia meios de comunicação eficientes como os de hoje. Não estou, é claro, falando em alienígenas ou mesmo em civilizações antigas mais desenvolvidas. Estou apenas deixando um ponto em aberto, algo que, a meu ver não deve ser abandonado como falso na medida em que não se pode prova-lo como tal, mas que também não deve ser aceito como verdadeiro pela mesma razão, deve apenas ser deixado em aberto.


Mas, depois dessa digressão, voltemos a falar das Grandes Pirâmides. Elas foram construídas por Khufu (Quéops), Khafre (Quéfren) e Menkaure (Miquerinos) e, segundo algumas teorias tidas como mais sérias, poderiam ter feito parte de uma espécie de programa estatal de combate ao desemprego gerado pelo “boom” populacional dos primeiros anos do Antigo Império.


É claro que tais teorias têm que ser compreendidas dentro da ótica de seus teóricos, pessoas que aceitam como verdadeira a “Hipótese Causal Hidráulica” e que, dessa forma, entendem que depois da centralização do poder o Egito teria atingido o estágio necessário para começar a explorar os recursos do Nilo, coisa que, segundo a teoria adotada neste texto, o Egito já fazia muito tempo antes da unificação, mais precisamente, desde os tempos dos Spat.

Seja como for, essas três pirâmides demandaram muito tempo e mão-de-obra para serem construídas e construções tão bem acabadas não podiam ser feitas com quatro meses (o Período da Inundação) de trabalhos anuais apenas, mas necessitavam de trabalhos constantes, sendo assim é quase certo que houvesse um grupo de trabalhadores altamente qualificados que fosse contratado do Estado em tempo integral para organizar a obra e montar sua infraestrutura, sendo que durante o Período da Inundação esse grupo era reforçado por legiões de trabalhadores.

Quanto ao fato de escravos terem sido utilizados na construção das pirâmides, essa hipótese já está totalmente descartada. Isso porque tanto a população pagava seus tributos ao governo em trabalhos, quanto a construção de um local de repouso eterno para o Semi-Deus se tratava, antes de tudo, de um ato de fé, o que certamente arrastava muitos trabalhadores de livre e espontânea vontade, em busca da garantia de suas próprias vidas após a morte, uma vez que a do Faraó fosse assegurada.

Pirâmide de Quéfren, com a Esfinge à frente


Esquema interno da Pirâmide de Quéfren


Esquema interno da Pirâmide de Miquerinos







No que se refere aos processos de construção, o que mais se acredita possível é que houvesse uma espécie de moldura arredondada de madeira que era encaixada nas laterais das rochas de modo a faze-las aptas a rodas. Porém, outra teoria forte era a de que uma espécie de tapete era colocada sob a rocha e o chão por onde este iria deslizar era molhado para facilitar o deslocamento, sendo assim, a rocha seria arrastada do porto onde desembarcava (sim, porque o grosso do trajeto era feito de barco pelo Nilo) até o local da construção. Os que defendem esta teoria o fazem por dizer que as rodas afundariam nas areias, o que dificultaria ainda mais o transporte, além disso, eles também dizem que antes do Novo Império, quando da introdução das bigas, não há indícios da utilização da roda no Egito, visto que todo o transporte era realizado pelo Nilo, não havendo nem sequer estradas. A acomodação das pedras era, com certeza o processo mais trabalhoso, visto que não havia qualquer tipo
de guindaste, sendo assim, para cada novo andar seria necessária a ampliação da passarela de acesso que era desmontada tão logo a pirâmide estava concluída. É ainda possível que se utilizasse um modo de construção destacado na Grécia, ou seja, o modo de ser ir enterrando o andar que estava pronto para se ter acesso aos níveis mais altos através de um andaime natural de areia. Por fim, quando a construção ficava pronta, desenterrava-se o edifício dando-lhe seu acabamento.





Vista externa da Pirâmide de Miquerinos





4.6.2 – Os Enigmas da Esfinge:

Se as Pirâmides de Gizé foram consideradas por Antípatro de Sídon, no século II a.C. como uma das Sete Maravilhas do Mundo, a Esfinge certamente não o foi por estar, à época da passagem do Grego pelo Egito, coberta pelas areias do deserto, como, aliás, ela esteve por vários períodos da História do Egito. Existe uma inscrição encontrada em sua capela (entre suas patas, como será explicado mais adiante) que diz que o Faraó Tutmés IV a desenterrou das areias onde jazia há muito tempo.





A Esfinge
A Esfinge é uma grande estátua antropozoomórfica, com corpo leonino e feições humanas cuja presença está inserida no contexto do complexo funerário da Pirâmide de Quéfren, inclusive com uma espécie de avenida ligando-a a pirâmide. Ela foi esculpida naquilo que é o cume de uma montanha recoberta pela areia, sendo assim, não foi necessário transportar toneladas de pedras de lugares distantes para o Planalto de Gizé. Até aí, nenhum mistério, nenhum enigma.


No entanto, como sempre sucedeu com tudo o que se refere ao Egito Antigo, a Esfinge sempre esteve cercada de especulações científicas e pseudo-científicas a respeito de tudo, desde sua origem até seu propósito, passando pelos padrões de erosão de sua superfície.



Para começo de conversa, existem os rumores de que é possível entrar dentro da Esfinge, ou seja, de que existem câmaras internas dentro da estátua. Na realidade, nunca ninguém encontrou (ou ao menos divulgou ter encontrado) uma entrada para a esfinge, contudo, exames de densidade da rocha e de ressonância comprovam que de fato há galerias internas e o que é mais intrigante: cheias d’água. Alguns especialistas explicam o fenômeno de forma simples, dizem que existem cavernas dentro da montanha no topo da qual a Esfinge foi esculpida e que tais cavernas estariam cheias d’água por uma dessas duas razões: ou seria apenas um braço do lençol freático, ou seria a conseqüência de uma suposta prática do Egito Antigo de encher com água o recinto da Esfinge de modo que esta ficasse apenas com a cabeça fora d’água. Esta água teria se infiltrado e se acumulado nas galerias internas estando impedida de evaporar e permanecendo lá até hoje.




É bem verdade, no entanto, que escavações realizadas entre as patas da Esfinge encontraram uma espécie de capela abarrotada de estelas de Faraós, aliás, numa dessas estelas aparece o nome Khaf, primeira sílaba de Khafre (Quéfren), o que serviu como reforço indelével para a teoria de que este Faraó teria sido o responsável pela construção da Esfinge, no entanto, o que muitos não levam em consideração é o fato do nome estar incompleto e não estar envolto na Cártula Real (espécie de circunferência oval que contornava os nomes dos Faraós Egípcios). Além disso, o texto em que esse nome aparece não indica que este indivíduo construiu a Esfinge, mas sim que construiu algo para o Deus Aton-Harmakhis (também chamado de Ra-Horemkhat), ou seja, a Esfinge (uma vez que se acredita que a Esfinge seja a representação do deus solar), o que pode indicar apenas que tenha construído uma imagem, ou mesmo a própria estela, para a Esfinge.


Seja como for, existem videntes e profetas que alegam que dentro das galerias da Esfinge estariam papiros com informações sobre o destino do mundo e que das duas uma: ou esses papiros ainda estão por ser encontrados e, sendo assim, por trazer suas informações para a humanidade, ou já foram encontradas e hoje constam dos arquivos secretos de alguma antiga potência colonialista Européia (ou mesmo dos EUA).


O que fica de realmente instigante nessa especulação é a necessidade de se saber o que há realmente dentro das galerias da Esfinge e se elas são naturais ou não.


Outra interessante teoria sobre a Esfinge diz respeito aos padrões de erosão encontrados em sua superfície. Há algum tempo, em 1991, um renomado Professor de Geologia da Universidade de Boston chamado Robert Schoch, a pedido e patrocínio do esotérico John Anthony West (indivíduo extremamente mal quisto entre os Egiptólogos tradicionais, por defender, desde os anos 70, teorias de que Atlântida realmente existiu e de que uma civilização perdida de Marte teria influenciado a evolução da civilização na Terra), estudou os padrões de erosão da estátua (que mede 73,15m de comprimento por 20m de altura) e chegou à conclusão de que eles só poderiam ter sido causados por água. Essa conclusão gerou frisson entre os Egiptólogos, uma vez que os índices pluviométricos dos últimos 4000 anos não seriam suficientes para causar tais erosões. Novamente falou-se da teoria de que se enchia o recinto da Esfinge de água deixando-a apenas com a cabeça para fora o que, aliás, explicaria o fato de
a cabeça ser bem menos erodida do que o resto do corpo da estátua. Houve diversas discussões e o Professor Schoch acabou propondo que uma piscina de águas paradas não seria suficiente para causar aquelas erosões, sendo assim, o impasse estava criado.


As teorias do geólogo Americano, reforçadas pelas dos dois gurus, Adrian Gilbert e Robert Bauval, autores do livro “The Orion Mystery” (que não trabalharam junto com ele, mas que também formularam teorias (estas Astrológicas (e não Astronômicas)) para o recuo da data da construção da Esfinge), chegaram à conclusão de que o padrão de erosão seria resultado de chuvas torrenciais que teriam varrido o Egito entre 10500 e 7000 a.C. (é bom que se saiba que para alguns as chuvas teriam começado a escassear por volta de 9500, como foi mencionado no início do texto, mas talvez só tenham realmente se encerrado por volta de 7000). O problema é que esta data se situa, pelo menos, mais de 4500 anos antes da data tida como sendo a da construção da Esfinge por Quéfren. Choveram então hipóteses que iam desde a associação da Esfinge com a Atlântida, como as divulgadas amplamente pelo esotérico Graham Hancock, até uma aceitação das datações de Mâneton para a cronologia da História do
Egito. Porém, outro renomado geólogo, Dr. James Harrell, da Universidade de Toledo, na Espanha, lançou uma teoria que contrapunha a do primeiro: segundo ele, os padrões de erosão da Esfinge se dão (e aumentam diariamente por esse mesmo motivo) por causa do sereno, pois como a Esfinge fica relativamente próxima ao Nilo, o sereno noturno é úmido. Ele se infiltra nas camadas mais externas e porosas da rocha e, com o amanhecer, que o esquenta e transforma em vapor, vai embora. Porém, a expansão da água se gaseificando dentro da rocha provoca leves erosões, o que acarreta no desprendimento de pequenas lascas de rocha da Esfinge diariamente.


Certo, muitos dirão, mas e quanto à cabeça? Por que ela não é erodida da mesma forma que o restante do corpo?


Bem, para pensarmos nisso temos que antes pensar em outro problema em relação à Esfinge. Muitos dizem que não foi Quéfren quem a construiu, afirmam que ela é mais antiga do que as Pirâmides e que foi sua localização que determinou a escolha do local para a construção destas. Estas teorias são as mais bem fundamentadas dentre todas, talvez até estejam corretas, pois vejamos:


A cabeça da Esfinge é desproporcionalmente pequena em relação ao restante do corpo da estátua. Isso leva a crer uma das duas coisas: ou seus escultores não tinham muita noção de proporção, o que parece um absurdo quando se está fazendo referência ao mesmo povo capaz de construir as Pirâmides, ou então, a cabeça é propositalmente menor do que o corpo. Agora vejamos, segundo as teorias mais aceitas, a cabeça da Esfinge representa o Faraó Quéfren (se bem que o investigador de polícia Americano Tem. Frank Domingo, especialista em comparação de retratos falados, tenha comparado seu rosto com uma outra escultura de Quéfren (esta com o nome do Faraó) e chegado à conclusão de que se tratam de pessoas diferentes, no entanto, a Esfinge, como todos sabem, não tem nariz, o que torna uma comparação muito difícil) e se isso for verdade, então por que justamente a parte da estátua que deveria ser (segundo os próprios padrões da arte Egípcia) maior por representar o Faraó é menor?


Talvez a resposta esteja no fato de a Esfinge ser realmente mais antiga do que as Pirâmides, talvez ela estivesse escondida debaixo das areias e tenha sido encontrada na época de Quéfren, o que o fez eleger o Planalto de Gizé para construir sua Pirâmide. Como o Faraó desejava ligara a estátua recém-encontrada ao seu complexo funerário, ele pode ter mandado reesculpir o rosto da Esfinge (fosse ele qual fosse) segundo o seu próprio, o que explicaria o fato dele ser desproporcionalmente pequeno em relação ao corpo.


Existe a história de uma expedição que se perdeu no deserto da Líbia a década de 20 do século XX d.C. e que depois de ter retornado para o Cairo contou que teria avistado, em meio a uma tempestade de areia, uma Esfinge que não a do Planalto de Gizé, mas com proporções semelhantes. Essa história é tida como uma invenção por muitos, mas o fato é que os caravaneiros nunca ganharam renome com ela e também que ela nunca foi pesquisada mais profundamente. Alguns poucos a pensar sobre ela chegaram à conclusão de que se ele for verdadeira, então poderia haver diversas Esfinges espalhadas pelos desertos próximos ao Nilo e elas poderiam ter uma espécie de função de defesa do território. Se isso for verossímil (o que não parece ser) talvez a Esfinge de Gizé seja apenas uma das muitas Esfinges que podem haver soterradas por entre os mares de areia do Saara oriental.


É interessante lembrar que em seu livro “Civilizações que o Mundo Esqueceu”, o Dr. Aurélio Medeiros Guimarães de Abreu, Professor de Antropologia das Faculdades Santo Amaro e da Fundação Cásper Líbero, nos diz que em 1952 uma expedição comandada por Taminarakus, oficial responsável pelo Museu do Cairo na época, seguindo os relatos do viajante Omar el Hawari, teria descoberto, numa região hoje pertencente à Líbia (e, por conseguinte, inacessível a novas pesquisas, por este governo, segundo o Dr. Abreu, não permitir a presença de pesquisadores estrangeiros em seu território), uma Esfinge ainda maior que a de Gizé. Esta descoberta, ainda segundo o Dr. Abreu, viria a confirmar a informação supostamente descoberta num papiro de 900 a.C., e encontrada em 1943, que fazia referência a seis Grandes Esfinges Guardiãs do Egito. Ah, sim. Em todos os livros que constam desta bibliografia, não vi nenhuma outra menção a esta Esfinge Líbia que o Dr. Abreu afirma estar descoberta e
catalogada, por isso, como nunca tive a oportunidade de visitar a região, não creio que tal construção exista de verdade, caso contrário, a meu ver, deveria ser digna ao menos de menção em obras mais conceituadas, mas, em última instância, é o leitor quem decide no que acreditar.


Qual a verdade sobre a Esfinge?


Talvez nunca venhamos a saber. Isso porque devido a vários problemas, desde conflitos religiosos até a presença de pessoas sem real interesse científico (mas apenas a intenção de comprovar suas crenças esotéricas) na região, a pesquisa séria se torna muito comprometida. É interessante notar também, como falaremos mais no final do texto, que a ação de ladrões de antiguidades também compromete muito a formulação de teorias, visto que desde o Egito Antigo existem quadrilhas que vivem de pilhar aquilo que restou do Período Faraônico. A falta de investimentos financeiros (que deveria advir do turismo, mas que é comprometida devido a ação de grupos extremistas que julgam o passado “pagão” do Egito como algo a ser esquecer e não a se pesquisar) também é fator importante na demora em se descobrir novos sítios e em se formular novas teorias. Hoje, para que um Historiador decida se capacitar como Arqueólogo já é um custo, visto que isso indica quase a certeza de maus ganhos
financeiros futuros, se este indivíduo decidir ser Egiptólogo, então, terá que romper sozinho diversas fronteiras, como por exemplo os altos custos das viagens e da manutenção internacionais, a dificuldade em se encontrar um orientador devidamente capacitado para orientar uma Pós-Graduação em Egiptologia (na própria Universidade de São Paulo, o maior centro de pesquisa do Brasil, não existem muitos professores capacitados em orientar alunos nessa área), dentre outras... Este é o destino da pesquisa científica em Humanidades, ser relagada ao segundo plano em detrimento de pesquisas das áreas de Exatas e Biológicas.

recebi sem autoria





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