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MITOLOGIA EGIPCIA: O Aeon De Horus



Crowley não usa a expressão Era a não ser nos seus comentários. Usa uma explicação completamente insatisfatória, do meu ponto de vista, e que irá ser repetido sem fim pelos seus discípulos até hoje: Aeon. Na sua opinião houve duas Eras, antes da agora anunciada e influenciada por Horus. A Era de Ísis, em que vigorava os cultos matriarcais da natureza e a humanidade vivia em simbiose espiritual com os seus ciclos de fertilidade e criatividade, talvez num estado de clarividência atávica; a Era de Osíris dos Deuses patriarcais que lhe sucedeu, e que implicou a perda da consciência supra-sensível e a emergência da racionalidade nas sociedades humanas, com os seus grupos sociais dominados por classes aristocráticas de estrato guerreiro e mais tarde de fundo burguês.

A Era de Horus seria a era actual por ele anunciada. Horus é um rei criança, mas diferente do Horus egípcio! É um deus duplo que combina androginamente a Mãe e o Pai, mas é também um deus guerreiro que vinga o seu pai da infâmia de seu tio Set e estabelece uma nova era de Ouro, onde os homens reencontram o estado inocência radical. É disto que fala o Livro da Lei. Mas Crowley ao afirmar o começo desta nova Era não se coloca no trilho batido das questões astrológicas e processionais, que aliás só ganham popularidade muitos anos depois na década de vinte. Ele parece propositadamente não a identificar com o conceito astrológico de Era mas sobretudo com o conceito de grande era antropológica, oriunda dos estudos de Frazer. Daí sua cautelosa aproximação ás teorias do matriarcado primitivo, quando dela falamos em relação à Era de Aquário ou de Peixes. Ele utiliza a expressão AEON. Isto é muito importante!

Os gregos distinguem três noções de temporalidade: Aion; Cronos; Kairos. Aion é para os gregos a Eternidade, quando esta se cristaliza no tempo humano. Essa Eternidade que se sente em cada recomeço ou momento da criação e que repete miticamente o momento da primeira criação de tudo. È interessante que o gnóstico Valentim fala do Aion como uma realidade superior supra-sensível, sob a forma de Pares Míticos criadores da ordem universal, e mesmo mais tarde S. Tomás de Aquino, ao falar de Aevum deve estar a referir-se ao mesmo sentido cronológico dos gnósticos gregos, porque o concebe como um momento de intervenção espiritual no mundo, em que a graça da Eternidade passa para a temporalidade.

Isto é interessante, porque esta passagem da Eternidade à Temporalidade é feita pelos Arcanjos na tradição antiga e oculta, e Rudolf Steiner, o celebre esoterista alemão fundador da Antroposofia, fala das Eras Arcangélicas, um conjunto de pequenas eras dentro das grandes eras zodiacias, dizendo que a partir de 1879, se inicia a Era de Mikael, o Ser Solar, que aliás é em tudo um análogo cristão do Horus de Crowley, mesmo na sua relação ambivalente com o Dragão ou Set. Parece também que a noção de Aion se deve, neste caso e na minha opinião, relacionar com um dado oculto muito importante na historia das técnicas magicas: o chamado Fim do Kali Yuga. Segundo Steiner, o Kali Yuga, ou a Era das Trevas, em que o homem teria perdido definitivamente o sentido e o conhecimento supra-sensível do cosmos, associado com a expulsão do Paraíso de Adão e Eva no Génesis judaico-cristão, terminaria também em 1899, "cinco" anos antes da Revelação de Aiwaz.


Esta ideia baseia-se nos dados da clarividência de Rudolf Steiner, o maior esoterista deste século juntamente com Crowley, mas no seu pólo oposto: o da reermegência do Cristianismo. De facto, as escolas ocultas falam que o Kali Yuga teria começado em 3101 A. C. e duraria uma média de 5.000 anos, o que cai de facto em 1899. Ora a Era depois desta data de 1899, que coincide aliás com a descoberta das primeiras pinturas rupestres e o trabalho de reabilitação do Paganismo por vários autores desde Yeats a Charles Lelland, é a famosa reermegência da Idade de Ouro, governada por Saturno. Ela refere-se a uma época arcaica em que o homem vivia em estado de clarividência instintiva com a Natureza, sem consciência de pecado e em que o corpo e os sentidos eram a expressão da unidade divina. Saturno, é de facto Regente do Aquário. É o próprio Set ou Satã, que os prelados tanto odeiam e temem!

Penso que é este o caminho certo par interpretar o sentido da expressão Era/Aion e sua referencia ao numero solar 666, e à união livre e sem pecado da Besta e da Mulher Escarlate como fundamento e essência de uma nova espiritualidade: aquela que no dizer de Kenneth Grant inaugura o relacionamento físico-sexual como o sacramento mais excelso da espiritualidade moderna. De facto, o Horus do "Livro da Lei" não é apenas o Horus das mitologias egípcias: é um Deus Duplo chamado HERU-RA-HA. É o Deus que une Horus e Set como duas polaridades equilibradas no reino interno humano, como se a psique humana copiasse a organização político-religiosa do Antigo Egipto, quando ambos regiam o Norte e o Sul do seu território terrestre, celeste e humano, definitivamente conciliados na dupla coroa do Alto e do Baixo Egipto na cabeça do faraó.

Ora, Steiner diz uma outra coisa perturbante e fascinante ao mesmo tempo: a de que a nossa Era traz a Era de Touro/Escorpião à consciência da humanidade, constelações associadas habitualmente a Set e Osíris.

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