As Teorias Cíclicas das Eras
Esta mensagem inesperada de uma nova Era é, estruturalmente falando, como mencionei, completamente inovadora. Embora desde os fins do século XVIII, com a aparição de "Origine des Cultes" de Dupuis (1794) se tenha posto pela primeira vez a questão da existência de uma cronologia transhistórica, baseada nos próprios dados da astronomia, e que pressupõe a existencia de uma ritmicidade de 2.150 anos associada a transformações radicais nas práticas mágico-religiosas, ela colocava-se sempre na perspectiva de um emissário cósmico masculino. A anunciação da era nova é feita por um Casal Mágico!
A Astrologia das Eras põe-se no século dezoito, sobretudo com o livro "Memoire Explicative du Zodiaque" do supracitado Dupuis, e coloca o ínicio da Era de Peixes em 388 A.C. Basicamente este método era apenas conhecido de uns poucos especialistas do oculto, e os celebre ocultistas posteriores a Dupuis, como Eliphas Levi e Papus, nunca a mencionam. É curioso salientar que é a partir deste livro que os grupos ocultos e as sociedades secretas esotéricas se começam realmente a interessar pelas cronologias astrológicas e ciclológicas, na perspectiva da previsão de mudanças políticas radicais na humanidade e a necessidade de se lhes antecipar e as controlar. Mas mais curioso ainda, é que é dos grupos esotéricos cristãos que emerge um interesse por estas cronologias, face à decadência do cristianismo institucional, ansiando um regresso de Cristo à humanidade!
De facto, em 1845 Johann Nepomik Serp escreve o primeiro livro sobre astrologia processional. Trata-se de um livro com um título curioso para um tema astrológico, "Das Leben Christi" ou "A Vida de Cristo". Nele Serp prevê o ínicio da Era de Peixes, não no inicio da era cristã conhecida de todos nós mas, para espanto nosso, em 1840! Isso significaria que estaríamos a viver o ínicio de ciclo da verdadeira emergência do Cristianismo, mesmo até de um segundo regresso de Cristo à humanidade. Isto à primeira vista parece um questão totalmente bizarra, mais enquadrada na tradição dos textos proféticos medievais, mas a verdade é que ele não se baseia em profecias mas em factos e cálculos de ordem matemática e simbólica, a que os grupos ocultos dão muita importância!
Lembremos ainda, que dois anos antes da revelação do "Livro da Lei" a Aleister Crowley, aparece na Alemanha o "Die Babylonische Kultur in Ihren Beziechungen Zur Unsrigen" de Winckler, que vem estabelecer um dado interpretativo importante para os inícios das Eras. Baseado em dados astronómicos e factos históricos importantes ele realça que o interpretar as Eras, se deve ter em consideração o factor ignorado por muita gente, de que existe uma décalage entre o inicio processional de uma era e o inicio da época cultural que lhe corresponde, como se o ínicio de uma era astronómica fosse apenas uma fase de impulso, muitas vezes meramente gestativo, e a sua materialização só se dá mais ou menos 1080 anos depois. Por isso, o começo "real" da Era de Peixes decorreria entre o ano de 1413, em pleno inicio do Renascimento, e o ano de 3573, muitos anos distanciado da nossa data actual!
Trata-se de uma forma pseudo-esoterica de manipular a aritmética cosmosófica no intuito de impor um novo Cristianismo às classes intelectuais mais insatisfeitas coma superstição cristã. Ora bem, é nesta fase de interesse ainda muito vago e inconsistente pelas temática das eras, no inicio do século XX, que emerge a revelação de Crowley no Liber Legis, mas em sentido completamente oposto ao Cristianismo. Ele pretende fazer emergir a mítica figura da Era da Besta e da Mulher, que no Livro do Apocalipse inaugura o Fim dos Tempos, segundo S. João Evangelista na sua terrifica visão na Ilha de Patmos. Assim, poderíamos estabelecer o seguinte esquema na polémica das Eras:
1-A década primeira do século vinte vê surgir uma ideologia política e religiosa baseada na manipulação das Eras e da precessão dos equinócios, na base de um modelo matemático-astronómica de cariz simbólico e cosmosófico.
2-Estas cronologias surgem apresentadas como uma justificação para a reermegência de Cristo na humanidade, ou mesmo como um regresso físico, como pretende Annie Besant e o seu Affaire Krisnamurti. Elas estão baseadas quer na crença da chegada eminente da Era de Aquário, quer no aprofundamento da Era de Peixes como pretende Rudolf Steiner, e que vê esta Era como uma oportunidade do homem facilmente desenvolver as suas faculdades suprasensíveis e se aproximar etericamente de Cristo.
3-Aleister Crowley traz a declaração do ínicio de uma Nova Era Espiritual para a humanidade, mas não se baseia em qualquer cronologia astronómico-processional, apenas numa revelação directa que lhe é feita por Seres Superiores. A sua revelação coloca-se no oposto do Cristianismo.
4- A partir de 1970 com o Profetismo New Age de David Spangler emergiu uma nova preocupação pela temática da Eras sob o desiderato da Era do Aquário e a renascença de modelos alternativos de vida face à ameaça do nuclear.
Esta concepção esotérica de Seres Superiores à humanidade pode parecer fantasiosa mas desde mais ou menos 1888, data da fundação da Sociedade Teosófica por Helena Petrovna Blavatsky, que emerge a ideia das eras espirituais serem matrizes temporais para certos tipos de desenvolvimento espiritual e que era guiado, desde as profundezas dos mundos invisíveis, por seres espirituais. È dentro desta ideia que parece dever-se encarar a entidade inspiradora do Livro da Lei chamado AIWASS. Mas em que sentido aparece empregado o conceito de Era em Crowley e no LL?
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