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ESPIRITUALIZE: Mãe Cósmica


Devemos considerar Deus somente como um espírito impessoal, desprovido de
toda forma e sexo? Não podemos invocar o Criador concebendo-O sob um aspecto
mais familiar para a mente humana? Nesse caso, como deveríamos chamá-lo,
“Pai” ou “Mãe”?

Na verdade, Deus é um e outro: Pai e Mãe. Uma porção do Seu Ser permanece
sempre oculta, mas, além do espaço e do universo, ali onde existe apenas
sabedoria pura, está o aspecto de Deus enquanto Pai. A natureza inteira, em
compensação, é uma manifestação de Deus no aspecto Mãe, pródiga em beleza,
doçura, bondade e ternura. As flores, as aves, as árvores, os rios, todos
falam, em sua formosura, do espírito criador e artístico do Senhor em Seu
aspecto maternal. Não podemos evitar um sorriso ao pensar na mãe, com sua
Via-Láctea cheia de diamantes estelares, suas flores perfumadas, o riso de
suas águas correntes e sua beleza manifestada na criação inteira.

Quando contemplamos a fecundidade da terra, o crescimento das plantas e dos
seres, o amor de todas as criaturas por seus pequeninos, uma profunda
ternura surge em nosso interior: vemos e sentimos nisso tudo o instinto
maternal de Deus. E se, em algumas ocasiões, a conduta da natureza se torna
cruel e inexplicável para nós (na Índia dá-se o nome de Kali à Mãe quando se
apresenta sob esse aspecto), assim também podem parecer à criança algumas
das medidas disciplinares e protetoras de sua mãe.

Quando nos sentamos em um bosque sombreado e silencioso; quando, no cume de
uma montanha, nos aproximamos do azul do céu; quando olhamos a areia branca,
perto de um mar resplandecente, não podemos deixar de experimentar certa
ternura em nosso interior: é essa a nossa reação diante do aspecto maternal
de Deus. Se, ao fechar os olhos, evocamos internamente a imagem do vasto
espaço, somos fascinados pelo sentimento da infinitude; e percebemos nela
apenas a vibração da sabedoria pura, nada mais do que sabedoria. Esse é o
aspecto de Deus enquanto Pai: a esfera ilimitada na qual não existe nenhuma
criação, nem planetas, nem estrelas, apenas o poder sem forma da sabedoria.
Esse é o Pai. Assim, Deus é tanto um pai como uma mãe.

Quando se concebe Deus como uma trindade composta pelo Pai, Filho e Espírito
Santo, podemos ver a Mãe no Espírito Santo, a criação inteira no Filho e, no
Senhor mesmo, o Pai. Assim como a mãe se reflete em seu filho, a Natureza
reflete-se na criação. Deus, em Seu aspecto de Pai e Mãe, deu nascimento ao
Filho, que é uma expressão de Seu amor. E nós, como parte da criação,
integramos esse símbolo do amor divino.

Na família humana, podemos ver uma reprodução em miniatura da grande família
divina. Deus manifesta-se tanto no pai como na mãe e, na expressão de seu
amor mútuo, no filho. Por que razão essa trindade se expressa na família
humana? Isso ocorre porque nós, homens, somos parte de Deus, e Ele é essa
trindade. O Criador, em Sua sabedoria infinita e em Seu sentimento infinito,
deu origem a veículos pelos quais Ele desejava expressar essas qualidades. E
foi assim que, ao manifestar-se na criação, a sabedoria do Senhor assumiu a
forma do pai, e Seu sentimento adotou a forma da mãe.

Cada um de nós é uma expressão parcial do Infinito, já que o pai atua sempre
de acordo com a razão, enquanto a mãe é guiada pelo sentimento. E ambos são
imperfeitos. O pai procura educar o filho pela razão e a força, ao passo que
a mãe é guiada pelo sentimento e pela ternura. Ao bater em uma criatura que
se encontra semi-afogada na maldade, com o objetivo de salvá-la desse
estado, a severidade do pai só conseguirá afundá-la ainda mais no mal. A
mãe, pelo contrário, dirá: “Ensine-a por meio do amor.” Em algumas ocasiões,
convém fazer uso de certa autoridade, enquanto em outras é preferível
oferecer uma grande dose de amor. Mas, se a criança recebesse somente
doçura, esse excesso a prejudicaria. Os dois aspectos de Deus – o maternal e
o paternal – são necessários para manter o equilíbrio.


Embora o amor paternal seja algumas vezes demasiadamente severo, o amor
maternal também nem sempre é perfeito. Fritz Kreisler, certa ocasião, fez o
seguinte comentário: “Minha mãe me amava tão profundamente que sempre se
opôs a que eu abandonasse a Europa; no entanto, eu não seria Kreisler hoje
se não tivesse enfrentado o seu amor”. Um amor como esse é egoísta e
escravizador.
(extraído de La Madre Cósmica, de Paramahansa Yogananda)

arte by Sueli Fernandes

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