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O Culto às Deusas na Escandinávia Viking




por Johnni Langer



Sobre o autor [i]

A questão das deidades femininas sempre despertou atenção dos especialistas em história das religiões. Durante o século XIX, alguns mitólogos procuraram demonstrar uma suposta antiguidade de um culto de caráter feminino, que teria produzido algumas estruturas sociais como o direito, a exemplo de Johann Bachofen, que posteriormente influenciou James Frazer em seu clássico O ramo dourado e o psicanalista Eric Neumann já em meados do século XX, entre outros.[ii] A teoria sobre cultos primordiais às deusas ganhou grande notoriedade a partir dos anos 1960, com o impulso do movimento feminista e, mais recentemente, vem ganhando novo fôlego com os adeptos do neo-paganismo. Livros, sites e filmes exploram a idéia de uma única divindade feminina que teria originado os grandes cultos da humanidade ou as grandes formas religiosas e até sociais em um passado distante.[iii] Neste contexto também temos as pesquisas acadêmicas sobre o mito da deusa mãe, sendo algumas das publicações mais recentes os livros La grande déesse du Nord[iv], do francês Régis Boyer, e Roles of the Northern Goddess,[v] da britânica Hilda Davidson, as duas obras tratando especificamente do culto da grande divindade feminina na Europa do Norte.

A grande deusa do Norte

Régis Boyer[vi] utilizou como metodologia básica de investigação, as teorias da arqueóloga Marija Gimbutas, que renovou os estudos sobre a deusa mãe nos anos 1970-1980.[vii] A idéia básica seria de que todas as grandes religiões do mundo tiveram inicialmente um culto a uma divindade feminina, estruturadora de bondade, sabedoria e poder, sendo posteriormente relegada a um segundo plano por entidades masculinas.[viii] Mas, ao contrário do que a literatura esotérica contemporânea apregoa, esta supremacia inicial da deusa não se refletia necessariamente na sociedade humana – o matriarcado (ou ginecocracia), tão valorizado por alguns neo-paganistas e feministas – não foi a primeira forma de governo, e aliás, nunca foi comprovado na História.[ix] É dentro desta perspectiva que Régis Boyer elaborou seu trabalho, procurando descobrir como o culto às deusas refletia aspectos da mentalidade e da sociedade nórdica, mas sem necessariamente cair em fantasias típicas do imaginário popular e da “literatura esotérica da Nova Era”.

O primeiro capítulo, Ambiguïté et diversité fondamentales de la grande déesse, apresenta algumas considerações de ordem teórica sobre as religiões de origem indo-européia e o papel das deusas, especialmente a hierogamia e a discussão de alguns aspectos da teoria de Georges Dumézil sobre tripartição. Em seguida, Boyer traça os elementos gerais sobre o papel das deusas na Escandinávia Viking, principalmente os aspectos relacionados com a fertilidade e os ritos de fecundidade. Também apresenta as mais importantes divindades femininas e suas relações com o panteão mitológico nórdico.

O capítulo II, Une approche nord-germanique: des groupes de divinités au collectif, aprofunda o estudo sobre as entidades sobrenaturais femininas: as Nornas (muito semelhantes as Parcas dos Gregos), Dísir[x], Valkyrjor[xi] e Vanes. As Dises são entidades tutelares, protetoras de um clã ou de uma família, enquanto as Valquírias foram seres relacionados ao deus Óðinn[xii], descritas como guerreiras, fatídicas e escatológicas, e que foram popularizadas pela ópera alemã do Oitocentos. Os Vanes constituem um dos dois grupos de deuses maiores do panteão germânico-nórdico, destacando-se a deusa Freyja, relacionada ao amor, ao sexo e a fertilidade.

O último capítulo, Visages de la grande déesse, é onde Boyer detalha a sua teoria principal: na realidade, as três grandes entidades femininas adoradas pelos Vikings – Freyja (“a dama”), Frigg (“a bem amada”) e Skaði foram manifestações diferenciadas de uma mesma deusa, que originalmente compunha o panteão da Escandinávia pré-histórica.[xiii] Freyja teria recebido os valores mais sexuais e mágicos da divindade primordial, enquanto Frigg herdou os aspectos mais familiares, sendo o símbolo da esposa por excelência, mas também sendo a senhora do destino. Skaði representava os aspectos de sazonalidade da natureza, o renascimento e renovação das estações do ano.[xiv] Desta maneira, Boyer foi influenciado pela teoria da tripartição do mitólogo Georges Dumézil, ao adotar este esquema em seu livro: Freyja (fertilidade), Skaði (guerra), Frigg (soberania).

Na conclusão, Permanence d’une image et d’un theme, o autor analisa uma importante fonte literária do medievo nórdico, buscando comprovar sua teoria, a Saga de Njáll. Por meio de personagens femininas da narrativa, ele identifica manifestações das três facetas da divindade escandinava primordial: Hallgerdr, filha de Höskuldr, uma loira alta e sensual, encarna Freyja; Bergthóra, filha de Skarphedinn, senhora da fazenda, assume o papel de Frigg; Hildigunnr, filha de Starkadr, feroz e destemida, personifica Skaði. Com isto, percebemos o cruzamento entre literatura e religião, uma importante abordagem a ser melhor explorada pelos investigadores acadêmicos.[xv]

As funções das deusas nórdicas

Por sua vez, a obra de Hilda Roderick Davidson[xvi], Roles of the Northern Goddess, procura seguir as teorias de Marija Gimbutas num âmbito mais arqueológico e relacionado aos vestígios de cultura material. Em todo livro, encontramos larga referência a estatuetas, estátuas, moedas, figuras de tapeçaria, imagens em alto e baixo relevo, decorações de painéis, estelas, frisos de edificações, etc, num eficiente exemplo de análise iconográfica atrelada ao estudo da religiosidade e mitologia. Do mesmo modo que Régis Boyer, mas de um modo mais detalhado e profundo, Hilda Davidson procura relacionar as manifestações das entidades femininas com valores sociais, especialmente nos aspectos cotidianos.[xvii] Utilizando o tradicional modelo comparativo com outras mitologias e tradições religiosas, destacando os indo-europeus, Davidson cria um quadro bem complexo dos papéis das deusas na vida dos antigos escandinavos.

A primeira parte, Mistress of the animals, examina as influências das divindades caçadoras e sua aproximação com animais sagrados. Não se restringindo apenas as fontes nórdicas, Davidson debruçou-se sobre uma ampla variedade de tradições folclóricas e sagradas, especialmente dos eslavos e do mundo clássico. Passando pelo Kalevala, Beowulf (ambas são fontes da Antiguidade Tardia) até chegar ao folclore oitocentista (como o caso dos irmãos Grimm), a autora examina a imagem das deusas como protetoras de florestas, do gado e dos animais, propiciadora da caça. Enfim, toda uma série de imagens relacionadas às regiões selvagens, herdeiras de um mundo ainda não completamente dominado pelo homem.

Os aspectos de favorecimento ao mundo agrícola por parte das deusas são vistos no capítulo seguinte, Mistress of the grain. Neste momento, já percebemos a existência de conflitos refletidos nos mitos, como na narrativa da deusa Gefjón, que após dormir com o rei Gylfi, ganhou certa porção de terra da Suécia, posteriormente separada do continente e originando a ilha de Sjaelland. Para Davidson, isto poderia refletir uma rivalidade existente entre os marinheiros e os fazendeiros da Escandinávia. Típicas do paganismo nórdico, com uma religiosidade não centralizada, ahistórica, sem hierarquias, castas sacerdotais ou livros sagrados, os conflitos podiam tanto ser de ordem social quando de gênero, reflexos de variações de cultos.[xviii] Por sua vez, enquanto deusas da fertilidade, Freyja e Frigg tanto podiam ser invocadas para partos como para uma colheita melhor.

Refletindo diretamente as funções e particularidades da mulher dentro da sociedade nórdica[xix], as deusas também atuavam como protetoras da tecelagem. Neste capítulo, Mistress of distaff and loom, Davidson analisa o famoso tapete de Oseberg, encontrado em um sítio funerário da Noruega (dentro de uma embarcação), e considerado uma dos mais importantes vestígios sobre a vida na época dos Vikings. Segundo a autora, a cena estampada no tapete representa o enterro de uma grande rainha que teria sido sacerdotisa da deusa Freyja ou Frigg, por causa da imensa quantidade de símbolos de fertilidade encontrados no funeral. O navio representa a passagem para a vida em outro mundo para os nórdicos, e também era o símbolo dos deuses Vanes, enquanto que a tecelagem simbolizaria o destino individual. Juntos, navio e tecelagem são um poderoso tributo para as entidades femininas que determinavam o destino das classes mais influentes da sociedade.

Outros aspectos da interferência religiosa das deusas no cotidiano são os referentes à vida doméstica, que Davidson explora em dois capítulos (Mistress of the household e Mistress of life and death). Passando pelo trabalho de parto, o uso medicinal de ervas até o preparativo de funerais, as entidades sobrenaturais eram as guardiãs do lar, figuras poderosas que atestam uma independência de culto na Escandinávia até o século VII d.C., somente relegadas a um segundo plano com a eminente chegada do culto a Óðinn e os Ases durante a Era Viking (séc. VIII a XI d.C.). Um momento muito interessante do livro é a recuperação extremamente exaustiva da autora em informações históricas sobre a associação entre ervas e as deusas, atestando uma grande permanência folclórica do paganismo nas sociedades cristianizadas até nossos dias. Outra situação em que as deusas refletem diretamente padrões sociais, é referente ao choro e ao luto, muito comum nas fontes mitológicas, associadas diretamente a lamentação feminina em funerais – um comportamento previsível em sociedades guerreiras, onde esta situação era considerada um sinal de fraqueza para os homens.

Hilda Davidson conclui seu livro com observações muito importantes para os estudiosos da religiosidade. Para ela, o mundo nórdico não conheceu templos poderosos ou cultos públicos importantes para deidades femininas. Os rituais e a adoração às deusas foram estendidos apenas para os limites da família e da casa, aparecendo vários aspectos destas entidades no trabalho feminino. As deusas nórdicas se concentravam em facetas particulares da vida e da atividade doméstica, associadas a uma área limitada da fazenda e do rebanho. Em geral, elas eram vistas como poderes sustentadores da vida, do mundo natural e das comunidades, encorajando a sexualidade e o casamento, mantendo uma continuidade entre os ancestrais e a família. As representações das deusas como figuras totalmente benignas e defensoras das mulheres não tem suporte nas fontes, pois elas também foram interpretadas com aspectos terríveis: figuras destrutivas, cruéis, implacáveis, associadas com o crescimento e cura, mas também com as forças indomadas da natureza e com aspectos selvagens do comportamento humano.

Conclusão: a presença do Eterno Feminino

A temática da inclusão de personagens femininos na história das religiões é algo ainda a ser amplamente explorado. Seja utilizando a teoria do arquétipo da Grande Mãe – a perspectiva de que imagens comuns a humanidade sobrevivem desde a pré-história até os tempos atuais no inconsciente coletivo[xx] - como no caso de Régis Boyer, ou ainda, o referencial de que as deusas são reflexos de estruturas sociais originadas pelos indo-europeus e que se estendem a várias tradições mítico-religiosas da Europa, a exemplo do livro de Hilda Davidson, o estudo dos antigos mitos e ritos ainda continua a fascinar o Ocidente. As duas obras não possuem interesse apenas para os pesquisadores de história da religião, mas a todos os interessados em desvendar as facetas do Eterno Feminino, ou seja, as características que tornaram as deusas tão importantes em várias culturas, nos levando a compreender melhor o papel das mulheres e do feminino nas sociedades ao longo da História.

Referências bibliográficas

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[i] Prof. Dr. Johnni Langer: Pós-doutorando em História pela USP, Bolsista da FAPESP. E-mail: johnnilanger@yahoo.com.br

[ii] Para grande parte dos mitólogos da primeira metade do Oitocentos, teria existido originalmente um ser supremo, sendo a humanidade monoteísta em sua origem. Com o desenvolvimento da civilização, houve um declínio moral, sobre o qual surgiu um culto à grande deusa mãe, a chamada ‘pequena cultura do direito materno’. Temos então a feminização da figura paterna do ser supremo, entendido como uma degradação moral da humanidade. Conf. DETIENNE, 1992: 41. Sobre pesquisas arqueológicas atualizadas sobre o culto da deusa mãe ver: LYNN, Roller E. Em busca da deusa-mãe: o culto anatoliano de Cibele. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

[iii] Um dos mais famosos romances fantástico-esotéricos da atualidade, As Brumas de Avalon, 1982, de Marion Zimmer Bradley, enfoca justamente neste referencial, onde temos a personagem Viviane, que numa passagem explica para Igraine que ambas e Morgana representam as três faces da Grande Deusa. Em uma publicação de grande sucesso nos anos 1970 e 1980, traduzida em várias línguas, a coleção Man, myth and magic (1970, de Richard Cavendish, traduzido no Brasil por Homem, mito e magia, publicada pela Editora Três, São Paulo, sem data), o verbete A deusa-mãe também foi elaborado neste referencial esotérico: uma antiga divindade que encarnaria os atributos benéficos e maléficos do homem, características que desaparecerem devido ao caráter racionalista e machista do mundo civilizado. Originado na região da Ásia Menor, seu culto teria sido difundido para o Mediterrâneo e toda a Europa, chegando até a Índia, mas sobrevivendo após o cristianismo devido a metamorfoses simbólicas. Psicologicamente o culto da deusa-mãe representaria uma necessidade humana de proteção e segurança, e nos tempos modernos seus símbolos poderiam sobreviver através da veneração da terra e da natureza (p. 120-123). Essa idéia de compaixão original da deusa (Mãe-Terra), sobrevivendo através de seu santuário (corpo) também pode ser percebida nas idéias do mitólogo norte-americano Joseph Campbell, pelo qual a idéia da preservação da natureza seria a conservação do princípio espiritual originário da Grande Deusa (Campbell, 1990: 192). Para o historiador Carlo Ginzburg, as teorias da Grande Deusa ou Deusa Mãe são abstrações que unificam de modo arbitrário cultos de natureza diferenciada ou então são teorias generalizantes inspiradas em uma psicologia etnocêntrica, conf. Ginzburg, 2001: 121, 217.

[iv] BOYER, Régis. La grande déesse du Nord. Paris: Berg International, 1995, 218 p.

[v] DAVIDSON, Hilda. Roles of the Northern Goddess. London/New York: Routledge, 1998, 211 p.

[vi] Régis Boyer é um dos maiores especialistas do mundo em história e cultura escandinava. É professor da Universidade de Paris-Sorbonne (Paris IV) e diretor do Institut d’Études Scandinaves. Destacamos principalmente suas obras: Yggdrasill: La religion des anciens scandinavies. Paris: Payot, 1981; Le Christ des barbares, le monde nordique (IX-XII siècle). Paris: Les Éditions Du Cerf, 1987; Héros et dieux du nord. Paris: Flammarion, 1997. Para uma perspectiva bio-bibliográfica de Régis Boyer consultar a apresentação do artigo Óðinn: guia iconográfico. Brathair 4 (1), 2004. www.brathair.com

[vii] Especialmente com as obras The Goddesses and Gods of Old Europe, 6500-3500 B.C.: Myths, and Cult Images. University of California Press, 1982; The language of the Goddess. London: Thames and Hudson, 1989. Foi organizada uma antologia bibliográfica em homenagem pela sua morte ocorrida em 1994: From the Realm of the Ancestors: An Anthology in Honor of Marija Gimbutas, 1997.

[viii] A idéia do matriarcado foi composta primeiramente pelo mitólogo Johann Jakob Bachofen, Das Mutterecht, de 1861, que influenciou diversos intelectuais do século XIX e início do XX. Obras traduzidas: El matriarcado: una investigación sobre la ginecocracia en el mundo antiguo según su naturaleza religiosa y jurídica. Madrid: Akal, 1987; Mitología arcaica y derecho materno. Barcelona: Anthropos, 1988.

[ix] Na realidade, as obras de Marija Gimbutas tiveram um grande sucesso na Europa e especialmente nos Estados Unidos, mas foram muito mal interpretadas. A pesquisadora nunca defendeu a existência do matriarcado: “I call matristic, not matriarchal, because matriarchal always arouses ideas of dominance and is compared with the patriarchal. But it was a balanced society, it was not that women really so powerful that they usurped eveything that was masculine” GIMBUTAS, Marija. Learning the language of the Goddess. www.levity.com/mavericks/gim-int.htm As teorias de Gimbutas também foram contestadas por alguns arqueólogos contemporâneos, mas suas idéias básicas ainda encontram subsistência acadêmica, como na sistematização realizada por Kristina Berggren e James Harrod: Understanding Marija Gimbutas. Journal of Prehistoric Religions n. 10, 70-73, 1996. Em tradução ao português, existe a contribuição de Gimbutas na obra coletiva organizada por CAMPBELL, Joseph (org.). Todos os nomes da deusa. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos, 1997.

[x] Dísir (sing. Dís): entidades femininas (irmã, donzela, deusa), tutelares e relacionadas ao contexto familiar. Conf. BOYER, Régis.  Héros et dieux du nord. Paris: Flammarion, 1997, p. 41.

[xi] Valkyrja: “aquela que escolhe os mortos”, seres odínicos, protetores de heróis e relacionadas ao destino individual. Conf. LANGER, Johnni. Guerreiras de Óðinn: as valkyrjor na mitologia Viking. Brathair  4 (1), 2004. www.brathair.com

[xii] Óðinn: “fúria”, a principal divindade do panteão germano-nórdico. Conf. BOYER, op. cit., 1997, 115.

[xiii] Para Boyer, um indício direto desta teoria seria a de que o deus Óðinn foi relacionado na mitologia com estas três deusas, razão para acreditar que foram originalmente a mesma criatura divina. Conf. BOYER, op. cit. 1995: 186.

[xiv] Boyer sintetiza as características destas três divindades com as seguintes narrativas poéticas: “Freyja, confusa claridade das manhãs dos amantes ou a vertigem crepuscular dos abraços; Frigg, calor solar dos amores realizados; Skaði, iluminação das alterações de estações, a sucessão do amanhecer e da noite, a oposição da vida e da morte”. BOYER, op. cit. 1995: 195.

[xv] Uma pertinente análise de fontes literárias, arqueológicas e iconográficas em geral sobre representações de deusas entre os Vikings foi realizada por SIMEK, 2000.

[xvi] Hilda Roderick Ellis Davidson - professora do Royal Holloway College e Birkbeck College, ambos em Londres, e vice-presidente do London Folklore Society. Publicou diversas obras sobre mitologia e religião da Escandinávia Viking, entre as quais: Gods and myths of Northern Europe (1964), The lost beliefs of Northern Europe (1991).

[xvii] Durante a década de 1990 foram publicados diversos estudos acadêmicos sobre divindades femininas, pelo qual percebemos uma grande tendência para futuras pesquisas em fontes sobre a religiosidade pré-cristã da Europa: SAX, W. Mountain goddess (1991); NEILS, J. Goddess and Polis (1992); GREEN, Miranda. Celtic goddess (1995); NÄSSTRÖM, B. Freyja: the great goddess of the North (1995); Ó CÁTHÁIN, S. The festival of Brigit: celtic godess and holy woman, (1995); SPAETH, B. The roman goddess Ceres (1996); BILLINGTON, S. & GREEN, Miranda (eds.) The concept of goddess (1996).

[xviii] Sobre a questão das rivalidade e conflitos internos do paganismo escandinavo, consultar: DUBOIS, Thomas. Nordic religions in the Viking Age. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1999; LANGER, Johnni. Morte, sacrifício e renascimento: uma interpretação iconográfica da estela Viking de Hammar I. Revista Mirabilia n. 3, 2003. www.revistamirabilia.com; LANGER, Johnni.  Midvinterblot: o sacrifício humano na cultura Viking e no imaginário contemporâneo. Brathair 4 (2), 2005. www.brathair.com

[xix] Na sociedade escandinava, a mulher tinha que cuidar das crianças pequenas, preparar e cozinhar o alimento, limpar a casa e lavar a roupa. Era a mulher que cuidava dos feridos, doentes e idosos. Quando o homem estava ausente, ela ficava encarregada da autoridade doméstica – seu símbolo era um molho de chaves preso ao cinto. Geralmente eram os pais que escolhiam o marido para as filhas, mas elas não eram obrigadas a casar. Nem a idade ou a falta de virgindade eram empecilhos para o casamento. As mulheres podiam pedir divórcio (entre os motivos, por exemplo, a impotência), ter propriedades e bens legais. As viúvas podiam se tornar poderosas com a herança do marido. Não existem evidências da participação feminina em batalhas como guerreiras (a exemplo do que ocorria com os Celtas), mas as mulheres nórdicas eram integrantes de expedições colonizadoras e podiam participar na defesa armada em casos de ataques. Conf. JESCH, Judith. Women in the Viking Age. London: The Boydell Press, 2003.

[xx] Esta perspectiva é adotada pelos psicanalistas, psicólogos, antropólogos e arqueólogos influenciados pelas teorias de Carl Gustav Jung: “A Grande Mãe é uma designação da imagem geral, formada pela experiência cultural coletiva (...) revela uma plenitude arquetípica, mas também uma polaridade positivo-negativa (...) catônico e agrícola e em sua forma divina, etérea, virginal”. SAMUELS, Andrew et alli. Dicionário crítico de análise Junguiana. Rio de Janeiro: Imago, 1988, p. 85-86. Para Régis Boyer, este arquétipo se manifestou na História com as deusas mesopotâmicas e sumerianas, o símbolo da grande serpente e do dragão, a prostituta sagrada, entre outras. Conf. BOYER, op. cit. 1995: 214.

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