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I’m too tech for my brain

Toda vez que se fala sobre tecnologia é a mesma coisa: “Estamos vivendo uma revolução”. Então me diga, francamente, desde quando não vivemos uma revolução? O único momento estagnado na história da humanidade, em que muito pouco progresso pode ser feito foi na Idade Média, porque se qualquer pessoa falasse ou fizesse alguma coisa que desagradasse a Deus ela virava churrasquinho. Ainda assim tivemos Leo da Vinci que só não foi preso porque trabalhava pro governo e Diderot que ficou só quatro meses na cadeia.

A única diferença é a velocidade em que conhecemos as coisas. Tecnologia sempre houve, o tempo todo simultaneamente em vários lugares do mundo. A diferença é que hoje temos a informação na era da instantaneidade, bateu - levou.

O que é mais importante disso tudo, na minha opinião, ninguém está pensando: as mudanças sensoriais que o nosso corpo está experientando e sofrendo. Tá todo mundo preocupado se compra Nokia ou iPhone, telefones que são distribuídos gratuitamente no Japão porque a tecnologia deles é considerada “inferior”. Se compra tv full hd, ‘lsd’, 60′…. enquanto na China a onda é ver novela brasileira no celular.

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Enquanto isso nosso corpo é totalmente reprogramado. Somos capazes de ver tv, ler e-mail e falar ao telefone ao mesmo tempo. Isso porque a minha geração não nasceu digital, ela é imigrante. Os nascidos digitais fazem muito mais coisas ao mesmo tempo e claro, largam tudo ligado e espalhado pela casa. Mandamos muitos mais estímulos pro nosso cérebro e a plasticidade neural é tão incrível que se adapta às novas demandas como forma de sobreviência, é o darwinismo neural. É por isso que os nossos avós são tão ativos, podem ser lentos, podem não entender a mecânica do novo mundo, mas estão bombando o cérebro diante das tecnologias.

A modernidade, a chegada do cinema, da urbanização, dos bondes elétricos, da própria luz elétrica, do telefone, dos prédios, tudo isso já foi uma revolução. A roda, o fogo, a moradia, a escrita há mais de cinco mil anos…. Estamos todos o tempo criando novas tecnologias e pensamos nisso. Mas não pensamos em como nosso corpo reage e se altera para essas experiências. Como a modernidade exigiu um novo jeito de olhar o mundo, prestando atenção nas ruas ao caminhar.

A grande revolução está na maneira que devemos olhar nosso corpo. Como mudamos o modelo de cognição com os games; como mudamos nosso modelo de olhar com os games, com o telefone celular e com os e-books; como mudamos nosso modelo tátil ao lidar com as substâncias das telas de computadores, telefones celulares, câmeras digitais e totens; como alteramos nossas habilidades hápticas ao desfrutar momentos divertidos com o Wii; como nos preparamos para enfrentar o mundo real por meio dos os jogos de estratégia; como dirigimos melhor depois de Enduro (rs).

Nosso cérebro processa informações 4 bilhões de vezes mais rapidamente que o computador mais veloz dos dias de hoje. Isso significa que talvez implantem chips na pele pra aumentar nossa capacidade de armazenamento e nossas sensorialidades, ou talvez o corpo mesmo, sozinho, faça um upgrade.

O que vai ter que mudar obrigatoriamente são duas coisas: o modelo de ensino e o modelo de trabalho. Quem não está interessado em participar disso começando a partir de agora, estará fora da revolução. Mas isso eu vou deixar pra outro post, porque esse já tá grande.

 

Obs.: o título é um subtítulo do livro iBrain, e a imagem é do livro Sensorium, da Caroline Jones.

do blog: http://www.anaerthal.com.br/

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